Mad Men: Season 01

16.10.10


Apesar da minha boa vontade e estar livre de preconceitos, eu sempre parava de assistir os capítulos de Mad Men por puro aborrecimento e não me convenciam as resenhas que eu lia a colocando num pedestal intocável e a nomeando como uma obra imune às críticas contrárias. Pois bem, nessa resenha aponto os itens favoráveis a ela, mas sem cair num falso encantamento apenas para ir de acordo com críticos especializados e premiações conceituadas (que como sabemos nunca são totalmente justas).


Ambientada na Nova York de 1960, acompanhamos a rotina da agência de publicidade Sterling Cooper, local onde trabalham os vulgarmente chamados “Mad Men” (“homens loucos”, como eram conhecidos pela sua maneira megalomaníaca de vender) na gênese glamourosa da Madison Avenue. A série é focada na figura do diretor de criação da agência, Don Draper (Jon Hamm), homem com um passado obscuro que conquistou notoriedade em seu campo de trabalho e se vê inseguro quanto à felicidade de seu casamento com a melancólica Betty (January Jones). Ainda na agência, sua nova secretária Peggy Olsen (Elisabeth Moss), irá se envolver com o ambicioso Pete Campbell (Vincent Kartheiser), embora ele seja recém-casado. E a líder das secretárias, Joan Holloway (Christina Hendricks), demonstra as artimanhas de uma mulher em meio a um ambiente marcadamente machista e se mantém como amante do patrão Roger Sterling (John Slattery).

Criada por Matthew Weiner, roteirista e produtor da classuda The Sopranos, Mad Men representa o que há de mais bem lapidado em sua produção. Sua reconstrução da Nova York em início dos anos 60 (época de grandes transformações sociais, culturais e históricas que repercute até os dias de hoje) e os custos dessa audaciosa idéia fez com que a HBO inviabilizasse o projeto, ao que a AMC acatou o desafio, dando maior projeção ao canal.


Quanto à sua reconstituição histórica, Mad Men definitivamente é a série que atualmente representa com vigor ao seu contexto. Em uma sociedade que é apresentada como racista, sexista, anti-semita, puritana e moralista, é interessante acompanhar as discussões em que ela dá margem. Os publicitários da Sterling Cooper são geralmente homens de caráter duvidosos, traem suas esposas com secretárias, que por sua vez têm a falsa ilusão de serem reconhecidas ou no máximo sabem o que eles querem e os usam a seu favor (nesse caso, Joan dá uma verdadeira aula de como se aproveitar de suas generosas curvas).

O elenco é outra qualidade que Mad Men preza, assim como seus personagens muito bem trabalhados. O protagonista Don Draper é o que há de mais sofisticado no clássico homem dos negócios, que com um casamento aparentemente vazio, se apraz com sua infidelidade. Mas o que sempre me chamou a atenção foram elas: as mulheres de Mad Men, cada uma com seu devido valor: Betty, a esposa de Don, busca entre seções de psicanálise os motivos de sua infelicidade e solidão (representada por uma atriz de traços hitchcockianos). Peggy, com seus olhos arregalados dá uma verdadeira volta às passividades de seu status no escritório e sua inteligência a levará para uma crescente importância profissional. E Joan (de longe e minha persona favorita) é uma verdadeira expressão da beleza feminina comparável à Marilyn Monroe. É ela a responsável pela apresentação das instruções de como lidar com o assedio masculino e em como se sobressair nessas situações.


O cigarro é outro personagem presente em praticamente todos os momentos. Todos os personagens fumam (salvo raras exceções). Confesso que me peguei várias vezes prendendo a respiração frente à quantidade de fumaça. Enfim, neuras de um não tabagista. Mesmo assim, não há glamorização da nicotina, afinal estamos inseridos em uma época onde as pessoas fumavam com naturalidade nos saguões, elevadores, restaurantes e até mesmo os ginecologistas no exercício do seu trabalho e as gestantes. A Reader's Digest ainda começava a analisar os males causados pelo hábito, causando preocupações às empresas de cigarros e consequentemente seus anunciantes - como é mostrado logo no piloto.

Enfim, após enumerar com certo cuidado as razões (acredito eu) do sucesso de Mad Men, devo confessar que apesar dessas qualidades rigorosas da produção, Mad Men não é uma série digamos, muito “animadora”. Sua lentidão vai de acordo com suas premissas e suas cenas arrastadas, ausências de diálogos e pouca coisa dada de forma mastigada fazem com que o grande público (inclusive eu) olhe com aversão à obra. Eu não tenho nada contra as séries que possuem um ritmo desacelerado e um estilo retrô (tanto é que amo Rubicon, por exemplo), mas Mad Men me fazia ficar incomodado com os seus desencadeamentos (ou falta de), algo que foi sendo discretamente mudado em seus quatro ou três episódios finais. Mad Men é aconselhável principalmente para aqueles que têm apreço pelo estilo artístico de The Sopranos, por exemplo, porém sem atrativos populares como tramas mais corridas. É importante ressaltar: alertar que uma série “é lenta”, não significa que ela seja ruim, mas quando se trata de Mad Men, é uma recomendação bem válida.

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2 comentários

  1. No mundo das séries, existem duas categorias: Mad Men e o resto.

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  2. No mundo das séries, existem duas categorias: Mad Men e o resto.

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