Bored to Death: Season 01

12.12.10


Bored to Death tem seus méritos por ser ousada e trabalhar toda uma narrativa estética imortalizada no cinema em prol do bom humor. Mas isso não basta para torná-la imperdível.


Com inúmeras passagens claramente influenciadas por histórias investigativas através de meios literários ou cinematográficos, a série tem a pretensão forçada de retratar a natureza neurótica de um homem em meio a seus problemas pessoais, arranjando um meio alternativo de lidar com suas frustrações. É assim também com a superestimada Hung, também da HBO. Se por acaso surgir mais alguma série com essa mesma temática, já vou insistir que a HBO quer seguir os moldes similares entre suas séries, assim como a Showtime faz com suas dramédias e anti-heroínas fortes e complexas.

Jonathan Ames (Jason Schwartzman) não está em sua melhor fase. Após sucesso significativo com seu primeiro romance, o escritor passar por um bloqueio criativo, se entregando ao álcool e a maconha. Seus excessos fazem com que seja abandonado pela namorada Suzanne (Olivia Thirby). Cansado da monotonia de sua vida e com uma perspectiva obscura de seu sucesso profissional, ele decide anunciar nos classificados seus serviços como investigador não-credenciado, influenciado por sua paixão por livros de espionagem. Seu modo desastrado de trabalhar acaba o metendo e constante perigo e não muito dificilmente acaba pedindo auxílio para seu chefe George (Ted Danson) – diretor de uma grande revista e rancoroso por sua ex-mulher tê-lo trocado pelo diretor de uma publicação rival, Richard (Oliver Platt) – e seu melhor amigo, o cartunista fracassado Ray (Zazh Galifianakis), que para suprir a frustração de sua vida, doa seu sêmen para um casal de lésbicas.

Bored to Death, acima de qualquer coisa, é totalmente assegurada pelo trio de atores principais. Jason Schwartzman, figura constante em trabalhos do cineasta Wes Anderson tem o semblante perfeito para um grande loser que a série pede. Zach Galifianakis, a grande revelação da comédia através do filme Se Beber, Não Case desponta como o responsável pelos momentos mais divertidos dos episódios. E Ted Danson, o grande veterano, desempenha o que sabe fazer de melhor: atuar passando a impressão de que está se divertindo muito no que está fazendo. E essa impressão vem com a maioria de seus trabalhos desde o cinema, como também na TV. Foi inclusive indicado a prêmios com seu Arthur Frobisher, de Damages.

O clima noir - com seus ambientes sombrios, mulheres com silhuetas chamativas e casos mais limiares e atrativos - é homenageado, mas não de uma maneira política. É o bom humor que toma os lugares em Bored to Death e não é muito difícil concluir previamente isso vendo a figura de Jonathan Ames. Seus casos são sempre solucionados na base da sorte ou por improvisos incabíveis em boa parte do roteiro. Ainda assim, nunca é algo esperado (na maioria das vezes). E de pouco importa os casos. Bored to Death não quer ter somente esse tratamento. Talvez por isso não seja tão bem acabada. Não se pode dizer que é uma comédia, muito menos um drama. E nesses casos, é sempre bom se abster de classificações.

Marketing é um lema importante no mundo das séries. Ao começar pelo título – que confesso, contou muito para me fazer assistir – indo a curiosidades como o nome do personagem ser o mesmo do criador, produtor e roteirista contribuem bastante para o já significativo hype em torno da série. Também é importante ressaltar que se trata de HBO, ou seja, no mínimo aquela sensação de algo limpo e bem produzido está presente. O que falha é o fatídico “muito promete e pouco cumpre”.

Sim, ela tem aquela insistência incômoda de parecer cool, conquistar a audiência mais atraída por um entretenimento mais cabeça – se é que isso é possível. Há os que são céticos nesse ponto. A série não é a única com essa pretensão, claro, mas transparecer isso se utilizando de situações que excedem no humor visual é que pode tirar todo o encanto.

Apesar disso, estão presentes os bons momentos. Boa parte deles até mesmo inspirados, mas no grande conjunto de temporada – diga-se de passagem, bem curta, apenas oito episódios – Bored to Death é capaz de se fazer pouco entusiasta. O último episódio não dá margem para o que estará por vir na segunda temporada (já terminada lá fora), nos deixar ansiosos para mais ou sentido falta do que foi assistido.

Continuar acompanhando é só uma questão de boa vontade, e claro, gostar muito dos atores principais, especialmente.

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