Eu acredito em Papai Noel, e você?


Depois da pausa de uma semana por conta do dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, Grey's Anatomy voltou para nos apresentar seu último episódio do ano em um tom natalino. Tudo bem que não tivemos uma ceia de natal ou mesmo um pinheiro gigante, mas tivemos um Seattle Grace Hospital bem decorado, algumas canções típicas dessa época do ano e uma presença importantíssima: a ''Mamãe Noel'' Shonda Rhimes. Que tomada pelo espírito do ''bom velhinho'' nos presenteou, não apenas com mais um excelente episódio, mas também com todas (ou quase todas) as surpresas e emoções que gostaríamos de ver na série antes de 2011.

Se por um lado a versão garçonete foi a mais engraçada versão de uma Cristina Yang em crise, por outro, a versão pescadora foi com certeza a mais tocante. Já cansei de declarar minha admiração e total confiança a respeito do relacionamento Derek/Cristina, e foi justamente por conta da influência direta do doutor, que a ideia dessa pescaria acabou me agradando tanto. Ver Cristina pesquisando obsessivamente sobre iscas e técnicas de pesca, tentando argumentar sobre o local ideal para se pegar peixes... Tudo isso poderia parecer apenas obra de uma mente entediada mas, ao meu ver, esse processo de preparação e questionamento acabou lembrando muito as atitudes de Cristina em relação a uma cirurgia. E confesso que por isso, até eu que sempre enxerguei a volta de Yang como um processo longo e não um simples ''estalo'', acabei ficando esperançoso ao vê-la desabar em lágrimas com uma truta na mão. Afinal, quem não pensou pelo menos por um segundo que a hora da redenção havia finalmente chegado? Eu pensei. Mas quando Derek sorriu segurando em suas mãos a foto que registrava aquele momento, eu finalmente me recompus e entendi a situação. Cristina não chorava porque havia se recuperado, e sim porque finalmente havia percebido o que se tornara. Cristina Yang era uma cirurgiã, ela era hardcore, ousada, ela era ovacionada porque salvava vidas. E quando percebeu que aqueles parabéns eram por conta de um peixe e não de um ser humano, ela simplesmente desabou. Cristina sabia que ali não era seu lugar, mas permaneceu lá porque, naquele momento, mesmo não sendo o que ela gostaria de fazer, aquilo era apenas o que ela conseguia fazer. E essa cena nos toca porque foi a primeira vez, em muito tempo, que Cristina conseguiu expressar seus sentimentos de forma verdadeira. Nos toca porque foi, quem sabe, o primeiro avanço. E a essa altura, um avanço é tudo o que queremos, é o mínimo que esperamos.

E por falar em avanços, foi isso que vimos em relação às atitudes de Meredith. Nem mesmo um casal em lua-de-mel com múltiplos traumas, conseguiu impedir a doutora de expressar suas opiniões e, porque não, ouvir também a dos outros. O fato é que a tensão entre Hunt e Grey já vinha sendo acumulada há algum tempo, e toda a história da pescaria acabou apenas servindo de estopim para acabar com a inércia nas atitudes da doutora. Antes e até mesmo durante a cirurgia, qualquer assunto parecia propício para a troca de farpas entre eles. Tanto que, após o procedimento, eles puderam finalmente colocar as cartas na mesa. Owen atribui uma parcela de culpa pelo estado de Cristina à Meredith, e Meredith consequentemente atribui uma parcela de culpa pelo estado de Cristina a Owen. E a verdade é que não há certo ou errado nessa história, já que embora tenham lá suas razões, a realidade é que não cabe a eles julgar o que foi, é, ou será melhor para vida de Cristina. Eles estão, cada um a seu modo, preocupados com Yang e isso é mais do que compreensível. O desabafo entre eles foi importante, e isso também é inegável. Mas quando Hunt diz que Cristina não é Meredith, ambos devem se lembrar que ela também não é Owen, ou Derek, ou seja lá quem for. Cristina é Cristina, e ela, e somente ela, sabe o que é melhor para si mesma.

Assim como Altman, que achou que se casar com um paciente seria o melhor a fazer, e consequentemente surpreendeu a todos nós com essa decisão. Já era sabido que a doutora procurava alguma forma de compensar seus sentimentos por conta de Yang, e que também procurava uma pessoa que compensasse o vazio deixado por Hunt em seu coração, mas matar dois coelhos numa cajadada só, assim tão repentinamente, isso ninguém esperava. Ou vai dizer que ver um paciente totalmente desconhecido, portador de uma condição grave (Von Hippel Lindau), ser ''acolhido'' por uma médica do Seattle Grace Hospital não acaba parecendo um déjà vu? Pelo menos para mim, foi inevitável a comparação entre Henry e Denny Duquette. E é por isso que eu espero ver Altman compartilhando não apenas seu tempo e dinheiro com Henry, mas também seu carinho e amor. E eu sinceramente aposto nisso. Afinal, se eles vão enfrentar essa luta juntos, o mínimo que eles precisam é ter um ao outro.

Ou vai dizer que na hora da luta todos são como a Dra. Bailey? A médica que teve a ajuda de três internos, total apoio do Cheif e ainda pôde contar com a teimosia de um enfermeiro para vencer a briga contra as temidas fístulas. É, parece que Miranda conseguiu enfim a tão sonhada paz de espírito. E eu não sei o que é mais engraçado: se é ver Bailey invadindo a reunião da diretoria toda alegre e saltitante para contar seu feito, ou se é saber que esse mesmo feito só foi possível graças a alguém que, na verdade, nem estava disposto a cooperar. E até que para alguém tão inflexível Eli não fez feio, pois além de ''descobrir acidentalmente a cura para as fístulas'', de quebra, ainda garantiu um encontro com Miranda. Encontro esse que, para mim, foi tão inesperado quanto a ideia de casamento da Dra. Altman. Tão inesperado, quem sabe, quanto o futuro dessa relação. Não era a própria Bailey que confessava para April, há algumas semanas atrás, que ainda sentia falta de Ben, seu ex-namorado? Sei lá, meio confuso. Pelo menos Eli teve a coragem necessária para fazer o convite, e quando a pretendida é Miranda, isso é algo a ser respeitado. Novo casal a vista?

Se tem casal novo chegando eu não sei, o que eu sei é que tem casal antigo voltando, e voltando em grande estilo. E se a teoria de que Shonda Rhimes resolveu nos presentear nesse episódio estiver certa, pode ter certeza que a tão esperada volta do romance entre Sloan e Little Grey foi o presente que ela reservou especialmente para mim. Incentivo da minha parte teve de sobra, torcida sem dúvida também não faltou. Eu esperei tanto por esse momento que a alegria contida nele permanece dentro de mim até agora. Foi maravilhoso ver Sloan botar toda sua canalhice em prol da conquista, seja na hora de jogar charme, ou na hora de subornar o enfermeiro. Mas o sensacional mesmo, o impagável, foi ver a cara de Avery ao tomar aquele fora de Lexie no Joe's. Me aterrorizava a possibilidade de haver um relacionamento entre ele e Little Grey, mas ao que tudo indica, isso está temporariamente fora de questão. Eu até cheguei a pensar em um possível triângulo com Sloan, Lexie e Avery... Mas essa volta foi tão demorada, tão sofrida. Seria muita falta de consideração de Shonda dar essa punhalada nas minhas costas. Até porque eu cansei de fortes emoções, o que eu quero mesmo é relaxar e curtir o romance do meu casal preferido. Bom, pelo menos enquanto durar.

É, reafirmo o que disse no começo do review... Acho que depois desse episódio eu acabei voltando a acreditar em Papai Noel. Afinal, Arizona é a prova viva de que ''mau menino'' não ganha presente. Pois se ela esperava voltar repentinamente da África e encontrar uma Callie disposta a esquecer de todas as mágoas, não foi isso que aconteceu. Tudo bem, eu também fiquei aflito torcendo por um beijo apaixonado que coroasse o tão esperado reencontro, mas convenhamos que é impossível culpar Callie por ter feito o que fez. Ela sofreu demais antes, durante e depois da partida de Arizona, e todos nós sabemos quais os fundamentos de toda essa dor, e como será difícil superá-la. Também é importante lembrar que a volta de Arizona não afeta somente Callie, a volta de Arizona representa muitas outras coisas. Representa a provável queda de Stark, o pediatra mais antipático do mundo. Representa também o destino de Karev, que mesmo tendo brilhado ao lado de Callie na ortopedia, sabe que a pediatria é seu lugar. Enfim, a volta de Arizona representa vários pequenos detalhes que acabam transcendendo o relacionamento amoroso que ela tem (ou tinha) com Torres, e isso também é um ponto a se pensar. Mas eu sei, esse é um assunto para outra hora. A pergunta agora é uma só: Arizona voltou por Callie, mas será que Callie está disposta a voltar para Arizona? Disposta eu tenho certeza que ela está, eu só não sei se ela está preparada. Meu Deus, quanto drama!

Grey's Anatomy se despede de 2010, como esperávamos, em grande estilo. Enchendo nossas cabeças de perguntas, e nossos corações de expectativas. Transformando sua volta, dia 6 de janeiro de 2011, em uma data tão festiva quanto qualquer feriado de fim de ano.