Mad Men 7x09: New Business

19.4.15


No episódio passado espelhos e seus reflexos foram um tema recorrente, com os personagens pensando sobre certas decisões tomadas e até onde isso as levou. Mesmo que aqueles objetos não estejam mais presentes, a ideia da autoanalise ainda é relevante, principalmente para Don.

Na sua primeira cena, quando o vemos na cozinha cuidando dos filhos enquanto Betty e Henry estão voltando de um jantar, há ao mesmo tempo uma versão responsável de Don, que é atencioso e amoroso com os filhos, e uma outra onde ele se mostra deslocado naquele cenário. Assim que Henry entra, Don sai dali o mais rápido possível denunciando como o novo casamento da ex-esposa ainda é um problema para ele, mesmo que sua reação aquele tipo de situação tenha evoluído, onde ele escolhe uma saída discreta em vez de um combate desnecessário. O mais importante para ele, o que mais o afeta, são aqueles segundos logo após sair da cozinha, quando ele parece invisível para uma família que ele teve, mas para quem ele se tornou um elemento não-essencial.

Com Megan, seus problemas são bastante diferentes. Se quando eles aceitam o inevitável fim do casamento a relação entre os dois parece amigável, agora tudo mudou. Todas as ações dela demonstram um ressentimento inesperado, ela parece desprezar Don de uma maneira desproporcional aos problemas que os dois tiveram. Mesmo que haja um propósito nessa mudança de atitude, ela soa exagerada uma vez que Don não causou tantos danos na vida dela quanto a reação que ela tem ao divórcio faz parecer.

Está claro que a intenção é criar uma dicotomia entre tipos de mulheres, sendo uma aquela que fica em casa e existe em função do marido e dos filhos, e outra que tem uma vida independente. Em New Business, Megan existe num limbo entre esses dois tipos. Mad Men sempre deixou claro em qual dos dois grupos ela melhor se encaixa, mas a influência da mãe e irmã, duas mulheres infelizes que se recusam a abandonar relacionamentos que claramente lhes trazem apenas sofrimento, a transformam em alguém como a ex-esposa de Roger, que acusa o marido de lhe roubar a juventude, a carreira, quando na verdade ele ajudou muito mais que atrapalhou.

A atitude de Megan após receber o cheque de Don é completamente diferente. Ela age como se liberta de um encantamento que a forçava a agir como alguém diferente do que ela realmente é. A quantidade de dinheiro que Don dá para Megan faz parecer que ela apenas se vendeu e por isso ela parece não se importar com as opiniões da irmã e o desaparecimento da mãe. As ações dela sugerem muito mais que isso, entretanto. Depois de meses ouvindo opiniões de duas mulheres que parecem eternamente presas sob uma nuvem de negatividade, ela se deu conta que Don apenas quer minimizar os danos que ele pode ter causado, e essa percepção muda Megan, que, no lugar de ressentir a escolha da mãe por dar um fim ao seu casamento, fica feliz por ela simplesmente ter tomado o controle da própria vida.

Diana é o mais recente exemplo de como Don de fato não deseja voltar a ser o homem que era. Diferente das outras mulheres na sua vida, onde ele era o agente da destruição, ele agora se vê na posição de ajudar a melhorar a vida de uma mulher com quem ele se envolveu. Não há como ele tornar a vida de Diana mais trágica, se ele a trair o mentir como fez com Betty e Megan, ele vai ser apenas uma pequena decepção comparado a perda de uma filha e o abandono de outra. Em Diana ele vê alguém como ele, que tem um passado tão problemático quanto o dele e que não deseja ser ajudada.

A historia paralela a de Don que se desenrola ao longo do episódio não chega a ser tão interessante. A relação de Peggy, Stan e a fotógrafa volta a explorar como Peggy é presa ao trabalho e a insegurança de Stan. Como uma trama isolada, a história dele não é das melhores, tornando-o apenas relevante como um contraponto a postura profissional de Peggy. Se ele se deixa manipular por Pima, ela mantém uma postura inabalável diante da fotografa mesmo que ainda se mostre um pouco interessada por ela.

New Business parece em sua superfície um episódio lento até mesmo para os padrões de Mad Men. Numa rápida análise, pouco parece acontecer, mas ele é uma oportunidade para vermos e dissecarmos o processo de evolução de Don através das relações dele com três mulheres diferentes. Se no oitavo episódio o vimos sofrer pelo que poderia ter vivido com Rachel, agora o vemos conformado com a nova família de Betty, tentando reparar os danos que causou em Megan e contemplando um romance com alguém que teve traumas comparáveis aos dele durante a vida.

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