The Sopranos: Season 01

6.11.10


Representando um dos maiores influentes da cultura pop contemporânea, The Sopranos tem o privilégio de ser adotada por críticos e fãs que ainda a mantém como uma das coisas mais requintadas que já surgiu na TV. 


Premiada a exaustão, a série mostra o submundo da máfia essencialmente italiana, algo que parece ser um lugar comum, dada às mesmas abordagens em grandes clássicos do cinema (A Trilogia O Poderoso Chefão e Os Bons Companheiros são exemplos de maior notoriedade). Mas The Sopranos consegue ter disparidades em relação ao tema, e chega ao posto (da qual eu concordo) de uma dessas séries must see. Indiscutível.

Tony Soprano (James Gandolfini) é um homem poderoso. Chefe da máfia ítalo-americana que domina Nova Jersey, ele está sobrecarregado de responsabilidades nos seus negócios e em casa. Sua mãe se nega a ir a um asilo, mesmo que esteja colocando em risco sua própria vida por conta da idade; seu Tio Junior (Dominic Chianese), outro Soprano mafioso, insiste em acertar as contas dos próprios negócios em seu território; Christopher (Michael Imperioli) - a quem Tony considera como um filho - age com irresponsabilidade por conta própria. Além de tudo isso, seu casamento com Carmela (Edie Falco) apresenta sinais de crise, e seus filhos Meadow (Jamie-Lynn DiScala) e Anthony Jr. (Robert Iler), além de apresentarem as inquietações inerentes à idade deles, podem descobrir que o pai é um dos homens mais temidos do lugar onde vivem. Todos esses acontecimentos causam em Tony acessos de desmaios relacionados ao stress, que faz com que ele procure a psiquiatra Dra. Jennifer Melfi (Lorraine Bracco) para lidar com seus problemas através de sessões de análise e medicamentos como Prozac e Lítio.

Um mafioso no divã. O mote por si só já é algo interessante. Mas o risco de tudo parecer incoerente é grande. Para Tony, seria uma vergonha caso soubessem que ele, sendo o homem reverenciado que é, estivesse sendo tratado por uma psiquiatra, e o pior, uma psiquiatra mulher. Aliás, na máfia italiana, existe uma série de condutas que servem como regras entre os homens que fazem parte dela. Ao longo da temporada, vemos que homens – segundo eles - jamais fazem sexo oral em mulher, pois pressupões que homens capazes de fazer isso, seriam capazes de pôr a boca em qualquer coisa. Italiano que se preze também nunca sai correndo em uma batida policial. É considerado vergonhoso. Além é claro, do respeito pela família, do sobrenome e as raízes italianas.

O embate entre o paciente e a doutora está presente em todos os episódios. E entre discussões freudianas e outros aspectos de psicopatias da modernidade, vemos que a relação médico-paciente vai além da estrita profissional. A Dra.Melfi, apesar de sempre tentar ver Tony como um paciente cotidiano, sabe que os anseios daquele homem estão além do que ela já conhece. E Tony, por sua vez, apreende que a figura feminina em sua vida é tão simbólico quanto o que ele poderia pensar em imaginar. Sua médica, sua mulher, sua filha, suas amantes e principalmente sua mãe, são todas participantes de um estudo que pode ser crucial para as razões de seus problemas.

Mas The Sopranos está longe de ser a história de um homem só. A série conta com uma cartela de personagens muito bem alinhados, e todos terão suas respectivas participações no desenvolver da temporada, mesmo que Tony Soprano esteja no epicentro de todas elas. Christopher com seu desejo oportuno de ser um grande nome da máfia, a esposa que se vê confrontada por se envolver carinhosamente por um padre, o garoto que ainda pouco sabe do trabalho do próprio pai, e o pouco que vai descobrindo, não sabe se é motivo de orgulho. E a melhor, a mãe que mais parece ter saído de uma tragédia clássica grega, com seu mau humor sempre presente a sua forma tão particular de se expressar.

Ou seja, a série que foi uma das maiores responsáveis pelo prestígio que a HBO respirou por toda a década passada apresenta duas frentes: a máfia e as pessoas que fazem parte dela. Não há uma sucessão de assassinatos, montes de dinheiro sujos de sangue e a figura megalomaníaca do mafioso sem apresentá-los com contornos bem pessoais. Fazer com que sintamos um mínimo de empatia por um criminoso não é fácil, ainda mais quando somos testemunhas dos momentos em que ele está errado, eticamente ou não. Sentir raiva de um personagem pode ser um ponto a favor, The Sopranos está como prova por ser “filho” de um tema já pré-estabelecido.

Para um fã do tema, já é um deleite. E mesmo para quem não simpatiza, a amostra de como é feita a construção de um personagem principal nos primeiros capítulos já é algo digno de ser assistido. Alguns episódios chegam a ser enfadonhos, concordo, mas em seus capítulos finais, a trama dispara completamente, sem parecer algo desconexo com o restante da temporada.

Quanto ao elenco, pouco se pode dizer além do incrível trabalho de James Gandolfini. Nem se passassem anos de descanso de imagem, para mim, ele será sempre a cara de Tony Soprano, com todo meu devido respeito. Edie Falco, outra que sempre esteve presente em premiações por conta de seu personagem aqui, pelo menos nessa primeira temporada pouco se mostra. Ela é a esposa de um grande nome da máfia. Só isso. Tudo que vem pra ela é lucro. Quanto aos demais, não sobra nenhum disparo de talento. Não que isso seja ruim, afinal, um elenco poderoso pode estar em uma confortável homogeneidade.

Na sua primeira temporada, já podemos sentir o que estará por vir nas seguintes. Diálogos históricos, tramas interessantes e bons desenvolvimentos de seus protagonistas são elogios que chegam a ser esperados em uma série de alto garbo como é The Sopranos. Mas me sinto na obrigação de salientar isso, principalmente para aqueles que relutam em desprezar a obra sem nunca tê-la visto. E é com recomendações já tão pré-concebidas que reitero: The Sopranos é sensacional.

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2 comentários

  1. Adorei o texto, @JuniorAd. Eu estou numa fase HBO da vida. Sinceramente, estou de saco cheio de mais da metade das séries que eu assisto da televisão aberta norte americana. E na HBO eu encontro um refúgio delicioso. Séries muito bem estruturadas, com personagens emblemáticos e um elenco afiado. No momento eu estou assistindo: In Treatment, Boardwalk Empire e True Blood.

    Confesso que eu comprei o DVD da 1a temporada de The Sopranos e achei um verdadeiro porre aquele piloto. Mas antes de tudo, eu tenho que explicar o porque dessa sensação: isso já fazem uns 3 anos, eu estava descobrindo o meu vício por séries. Aí já viu, uma criança de 14 anos não consegue digerir uma série que, assim como o resto das séries da emissora, é pura arte. Tanto na direção, como no roteiro e nas atuações. Acredito que agora aos meus 17 anos de idade vou amar essa série. Afinal, embalei numa maratona de Mad Men e só faço elogios.

    Vou conferir a 1a temporada. Afinal, eu já tenho o DVD. hahaha.
    Abraços,

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  2. Poxa, 14 anos vendo The Sopranos é meio forçar a barra mesmo. Eu também desisti de ver Sopranos no piloto ainda na adolescência, mas resolvi matar logo a temporada e só melhora. Tem gente que continua detestando, mas eu como sou fã de máfia, sou suspeito pra falar.

    Quanto a Mad Men, eu achei bem "devagar quase parando", mas como disse na minha review sobre a primeira temporada (a única que vi, por enquanto) eu sou apaixonado pelo núcleo feminino da série e isso é uma desculpa para continuar assistindo-a.

    Valeu pelo comentário e continuarei declarando meu amor pelas séries da HBO, Showtime e AMC pelas próximas reviews pelo menos.

    Grande abraço!

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