Dallas 1x01/02: Changing of the Guard/Hedging your Bets

17.6.12


Novelona canastrona e crocante. 

Se você não gosta de novela, dê meia volta e esqueça Dallas (ou dê uma chance... e não se arrependa). Você pode ter lido ou ouvido falar que a série original é um “clássico americano” que retratou o glamour, o poder e a riqueza da alta-sociedade americana... mas Dallas não passa de uma baita novela com alcunha de série.

Como vamos traçar paralelos entre a antiga e a nova versão, dividiremos esta review em duas partes.

A Clássica Dallas e a Nova Dallas 

Para começo de conversa, ela foi exibida pela CBS de 1978 a 1991, totalizando 14 temporadas e 357 episódios. Os elementos de seu enredo são os mesmos que você encontra nas novelas mexicanas, Globais e do SBT: vilão maldoso e sem alma, mocinhos bondosos e ingênuos, paixão, inveja, sexo, intrigas, traições, "quem matou Fulano?", "quem atirou em Ciclano?", "Beltrano é filho desse pai mesmo?", "Fulana não mentiu sobre a paternidade do filho?" etc. Teve até gente que morreu atropelado e voltou na temporada seguinte, do nada... e tudo de ruim não tinha passado de um pesadelo. 

Ao redor do mundo, Dallas já passou em 130 países e foi dublada ou legendada em cerca de 70 idiomas. Aqui no Brasil, ela já foi exibida pela Globo, pela Rede Bandeiras, Rede TV, dentre outras. 

Elenco da série original
Agora a TNT quer retomar a história da família Ewing, com o foco nos descendentes dos protagonistas, e recomeçar a jornada de guerra no meio da família. Para tanto, somos apresentados a uma narrativa cheia de velhos truques. Trilha sonora e climão de suspense parecidos com os de A Usurpadora, personagens falsos e cheios de segundas intenções que vivem para se trair, trocas de olhares suspeitos e ameaçadores, e closes da câmara em partes inferiores do corpo visando fazer segredo com as identidades dos delinquentes. 

O principal, porém, fica por conta das imensas reviravoltas. Não é brincadeira. O que mais tem em Dallas é reviravolta. Outros seriadores me avisaram que seria assim, mas não imaginei que seria tão descarado e exagerado. Chega ao ponto de você pausar o episódio para retomar o fôlego, porque com tanta sambada na cara o telespectador fica até tonto. 

Mas isso não quer dizer que a crocância de Dallas seja dispensável. Não. Jamais. Nem dá para imaginar o quanto podemos nos divertir com essa novelona americana. É forçada, é exagerada, é excêntrica e é única. Não é comédia assumida, mas faz até os mais ortodoxos rirem. Não é filme de suspense, mas sempre deixa a gente com o coração na mão. Não é original, mas vai te fazer ficar querendo saber o que está por vir. Não tem jeito... Dallas voltou para ficar. 

Os Personagens e a História

J.R. (Larry Hagman) e Bobby (Patrick Duffy), que eram os irmãos-inimigos na versão original, continuam sendo inimigos aqui, mas Bobby acha que isso é passado e J.R se aproveita disso. J.R. fazia o vilão inescrupuloso e Bobby era o filho de bom coração, sendo que ele herdou de sua mãe a propriedade da família, a fazenda Southfork. Consequentemente, os filhos dos dois seguem a mesma linha de caráter dos pais. 

John Ross Ewing Junior (Josh Henderson) faz o malvado que quer passar todos para trás, se acha o esperto, mas é descuidado demais.  Christopher Ewing (Jesse Metcalfe) é o bonzinho que, como de praxe, é sempre o mais estúpido. Para piorar só um pouquinho o sofrimento eterno do mocinho, Chris não é um Ewing legítimo, ele foi encontrado por Bobby e criado como filho. Só que John Ross também não escapa da sina "paternidade indefinida", já que na série original não ficou claro se J.R. era realmente seu pai.


O contraste bom x mau se reflete na disputa que os primos travam diante dos negócios da família. Apesar de os Ewing serem ricos por causa do petróleo, Bobby prometeu à sua mãe que não prefuraria Southfork, promessa que John Ross logo trata de desonrar, encontrando uma verdadeira fortuna de outro negro naquela terra. Chris, por sua vez, investe no metano como uma nova forma de energia, na tentativa de levar o nome Ewing à gloria através da energia alternativa, ou como ele descreve, o "futuro".

Para completar, entre os dois primos existe a donzela, interpretada por Jordana Brewster. Era de se esperar, óbvio, que existisse uma fêmea fatale que possuísse o coração dos dois, e era de se esperar também que ela fosse perfeita em caráter e tivesse uma beleza cristalina. Elena Ramos, que tem nome de heroína de Manoel Carlos, é uma engenheira inteligentíssima, filha da empregada da família, humilde, apaixonada por Chris, sincera, e só tem amor no coração. Mas no quesito beleza... Dallas podia ter escolhido melhor. Não é hipocrisia nem exigir demais, mas é óbvio que numa série como essa, onde os jovens são lindos, malhados e ricos, uma lambisgoia magrela como Jordana Brewster não podia ter o papel da princesa disputada. Just saying.

Tirando isso, ela cumpre bem o posto de donzela vítima das armações alheias que a separam de seu grande amor. Ela e Chris tinham casamento marcado, ela recebeu um falso e-mail dele terminando, e o conto de fadas se desfez. Chris foi para a China e voltou com a noiva Rebecca Sutter (Julie Gonzalo), que de cara já rosna para Elena, marcando seu território como uma cadela no cio. O engraçado é que Rebecca passou o primeiro episódio fazendo a boa noiva/esposa e, já no segundo, entrando nas reviravoltas, nos é revelado que ela e o irmão armaram para Christopher, sendo que provavelmente foram os dois que enviaram o e-mail.

Mas enquanto Chris estava catando mulheres mundo afora, Elena catou John Ross, que não ficou nada satisfeito em levar a culpa pelo término dos pombinhos. Ou seja, Eleninha e Chris não tinham o telefone um do outro, não podiam ter enviado um e-mail, telegrama ou sinal de fumaça para esclarecer as coisas... e Chris acaba se casando com Rebbeca. Sinal de infidelidade e muitas cenas melosas de choro vindo por aí.

Porém Elena é uma pessoa que deve exalar um cheiro infinito de santidade e confiança. Assim que ela precisou de dinheiro emprestado para comprar umas concessões de petróleo, ela recorreu à (ex) sogra, Sue Ellen Ewing (Linda Gray), mãe de John Ross. A única coisa que Ramos fez foi mostrar um mapinha fajuto para Sue e pedir que ela falasse com o diretor do banco para ele liberar a grana. Como num passe de mágica, a sogrona jogou o mapa fora, abriu o sorriso e disse: eu te empresto o dinheiro, Elena. E negócio fechado.

Sue Ellen, aliás, é divorciada de J.R., e até estremece quando ele chega perto. Ele, que também num passe de mágica, saiu da "extrema depressão" em que estava, (que até o impedia de falar), resolveu ir à festa da ex para aterrorizá-la um pouquinho.

Lá na festa também estavam Bobby, a esposa Ann (Brenda Strong), John e Elena, que aproveitou para chutar oficialmente o traseiro do namorado. Além deles, uma falsa Marta Del Sol (Leonor Varela), a potencial compradora de Southfork, também dava o ar de sua graça. Marta-Fake é amiga íntima de John Ross, menino ingênuo que acha que pode golpear o pai, o demônio mais velho de todos. Os dois tramam juntos a compra de Southfork, aparentemente um acontecimento que John "previu".

Com a volta de Chris e com seu pai descobrindo que tem câncer, a venda da propriedade parece ser a solução. Bobby acha que, se ele morrer, seu filho não conseguirá tomar conta de Southfork, entrando numa guerra conta John. A partir daí, um trama daqui e outro dacolá, com J.R. tentando colocar as mãos na fazenda, e seu próprio filho fazendo o mesmo, enquanto passa o pai para trás. O melhor, porém, fica por conta de Chris (retardatário). Seu "combustível do futuro" se revela uma grande roubada e ele muda de ideia quanto à venda, e, já tarde, tenta convencer o pai do mesmo. O problema é que aí ele percebe que Bobby o acha um belo incompetente... deixando-o todo emburradinho.


A trama (ou as tramas) de Dallas, então, partirá deste ponto. Bobby querendo vender Southfork e escondendo que tem câncer, Chris contra a venda, e J.R. e o filho correndo para aproveitar a oportunidade e tomar a propriedade. O 1x02 terminou com J.R. descobrindo que o filho e Marta-Fake estão tentando enganá-lo, numa cena digníssima do congelamento de Avenida Brasil. Ou seja, o monstro está de volta e está esfomeado de raiva.

As atuações da série não deixam a desejar, elas combinam com o estilo novelão da produção. Os personagens são fáceis de entender, eles são sempre rasos e previsíveis. Quanto às cenas, muitas delas merecem destaque pelo imenso charlatanismo que possuem. Alguns exemplinhos básicos:

- O momento em que J.R. começa a falar milagrosamente, quando parecia ser apenas um zumbi. 

- Marta tirando um sonífero de sua bolsa como se aquilo fosse a coisa mais banal e cotidiana: opa, eu tenho um sonífero aqui, vou colocar na bebida do John e vou gravar um sex tape

- J.R. fazendo figuração com o andador e de repente jogando-o para o lado. 

- Marta e John se encontrando no meio de um estádio imenso só para se encararem com cara de badasses (Para que tudo isso? Não tinham telefone?).

- Ann descobrindo que seu marido tem câncer em menos de 3 cliques.

Mas nem só de charlatanismo, ganância, canastrice e toneladas de reviravoltas vive Dallas. Já no 1x02 tivemos Chris nos presenteando com um shirtless (só faltou malhar mais um pouquito, Chris...). Torçamos para que a série invista em muitas cenas dessas, de qualidades dramáticas imprescindíveis.

YES! (Ou não)

O criador da série original é David Jacobs e a showrunner atual é Cynthia Cidre, que também escreveu o piloto. A direção dos episódios de apresentação ficou a cargo de Michael M. Robin (The Closer, Rizzoli & Isles).


Observações:

- Idade do elenco original: Larry Hagman (J.R.): 80 anos. Linda Gray (Sue Ellen): 71 anos. Patrick Duffy (Bobby): 63 anos.

- A abertura da série lembra a de Canavial de Paixões, do SBT, e um tantinho a de O Rei do Gado, da Globo. Né não?

- Nada mais dramático do que Elena ver seu príncipe encantado casando-se com outra, ser dama de honra do casório... ao som Adele...

- Em cada cena de Josh Henderson eu me lembrava de Jonathan Rhys Meyes, o reizão de The Tudors. Tá aí a razão porque amei tanto Dallas.

- Dallas estreará no Brasil dia 18 de junho, às 22 horas. Será exibida pela Warner Channel.

- Dicas de beleza para Dallas: cortem as sobrancelhas horrorosas de J.R. e arrumem uma peruca bem volumosa para lambisgoia Elena. E mandem Chris colocar a malhação em dia. Para ontem.

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3 comentários

  1. Vou confessar, tenho mais de 30, então me lembro do original....e para mim basta esse primeiro episódio, sério, tentei ver pelos velhos tempos, mas esperando obvio, algo de novo, o que não vai acontecer....os mesmos dramas familiares, só com agora com mais canastrice na interpretação.....passo.....novelão por novelão, assistam a maria do bairro, pelo menos dá para dar umas risadas.....

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  2. Eu achei bem legal de assistir a série. Sem dúvidas acompanharei pq não canso dessas reviravoltas de series como essa e Revenge, HAHAHA.
    BTW, ótima review.

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  3. Geeeeeeeente, eu amei a série! MTO novelão, bom demais! (Ah, vah; guilty pleasure eh sempre o melhor).
    Personagens facin de acompanhar, msm com as revira-voltas; mto stabbing para pouca back... faz meu estilo!

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