Person Of Interest 2x21/2x22: Zero Day/God Mode (Season Finale)
12.5.13
Dentro da Maquina.
Humanizar personagens é um elemento fundamental para o bom
funcionamento de uma historia. Ninguém se identifica com um estereótipo ou
odeia um vilão artificial. O desafio destes mais recentes episodios de Person of
Interest é ainda mais complicado, pois deve ser criada uma identidade para a Máquina, mas muito bem executado graças a uma
personagem que julgava incapaz de emoções: Root.
Sem ela, o episódio seria apenas uma perseguição interessante. Com
ela, a máquina tem uma cara. Ela e usada como a expressão do “sentimento da
Máquina” e assim, ironicamente dadas suas tendências psicopatas, consegue
estabelecer com eficiência o sofrimento da criação de Finch.
Ao ser usada como um meio para relacionar o publico com a Máquina,
Root também é mais bem explorada. Evoluindo de uma figura unidimensional - mas
nunca desinteressante - para uma personagem que demonstra sentimentos profundos
e, ao mesmo tempo, bizarros pela Máquina, ela agora surge mais natural. É
crível que um programa de computador esteja realmente sofrendo quando vemos a
reação de Root ao saber que este teve de recorrer a “papel e pessoas” para
manter suas memórias. Por mais mal concebida que esta situação seja - as
pessoas digitando textos criptografados no computador apos serem impressos é
uma idéia inacreditavelmente estúpida -, a idéia principal permanece e é
possivel entender as limitações que Finch impos ao seu programa e como Root
apenas deseja libertar o ser superior criado por ele.
A medida que os episódios se desenvolvem, a obcessão de Root pela
Máquina se torna crescente mas isso nunca é dito, mas é percepitivel. A
excitação quase juvenil ao se comunicar finalmente com seu objeto de adoração,
a preocupação com alguém que partilhe com ela a idéia de que a Máquina é uma
criação perfeita e o desapontamento ao perceber que não havia encontrado seu deus,
esses são todos momentos em que é possivel entender a personalidade de Root sem
jamais parecer expositivo. Ponto para a atuação de Amy Acker, que conseguiu dar
emoções a uma psicopata.
A cena final, com ela internada é uma promessa interessante para o
futuro da série mas que, infelizmente, pode ser facilmente desfeita com a
simples alegação de que a voz era apenas uma alucinação de Root. Espero que
essa não seja a sequencia daquela cena e que vejamos a continuação do
relacionamento da personagem com a Máquina.
Finch foi a outra metade importante desses dois episódios finais.
Atraves de uma série de flashbacks que mostram a degradação de seu
relacionamento com Nathan, foi possível perceber suas motivações e a origem do
sentimento de culpa que ele carrega em relação a sua criação.
Mudando de um homem inocente - ou patriota, se é que há alguma
diferença - e alheio defeitos humanos básicos para alguém que, assim como Root,
percebe as pessoas como sendo essencialmente corruptas mas que, diferente dela,
acredita que devam ser ajudadas e percebe algumas como sendo piores que as
outras, a trajetória de Finch mostrada nesses episódios finais torna possivel
entender todas as suas atitudes.
Por que ele abandonou Grace? Por que criou o vírus? Por que
continuou fazendo o trabalho iniciado por Nathan? A resposta não é simples, já
que ao mesmo tempo o mostra como alguém altruista (ao se afastar de Grace) e
egoísta (ele só decide utilizar a máquina para proteger os irrelevantes por que
perdeu seu amigo), construindo assim uma personalidade mais complexa, que,
mesmo sendo a do herói da série, encontra ressonância nas motivações da vilã.
Harold também queria libertar a máquina, ele também percebe que as
pessoas que a controlavam eram inaptas para o serviço e que, talvez, não haja
ninguem incorruptivel e logo, não há ninguém capaz de usar a Máquina para o
bem. Ele acredita que essa forma de vida superior que criou não deva ser livre
apenas por ser, mas para proteger as pessoas, sendo ela mesma o agente a
decidir o que é uma ameaça, quem é relevante ou não e quem recebe essas
informações.
Apesar de se esconder sob uma máscara de procedural,
carregando muitos defeitos do genero por isso - toda aquela explicação de Finch
sobre suas ações no fim de God Mode é expositiva demais - o cerne de Person
Of Interest é a ficção cientifica. Os dilemas morais apresentados pela
série desde o seu começo agora são muito expandidos indo muito além do “Temos o
direito de decidir que vive ou morre?” e chegando em “Diante da nossa
inconpetencia em fazer o melhor para nós mesmos, seria uma inteligência
artificial a melhor solução para nos proteger?”
1 comentários
A série está virando um MONSTRO no melhor sentido!
ResponderExcluirComeçou despretenciosa e se afundou numa "mitologia" incrível.
E acompanhar essa evolução é uma experiência fora de série.
Enfim... Bela review e nos vemos na próxima temporada.
Comenta, gente, é nosso sarálio!