Glee 5x03: The Quarterback

11.10.13


Fins.

Não foi fácil. Defender Finn Hudson, o personagem que de tão bondoso às vezes soava bobo, é tarefa impossível hoje em dia. Vivemos na época dos anti-heróis, dos personagens questionáveis, de camadas e mais camadas de profundidade. Bondade aparentemente não traz conflito, não conta grandes histórias, não subverte clichês.

Pois bem, Finn era essencialmente um cara bondoso. Cory Monteith também, ou pelo menos é o que podemos supor pelos depoimentos de todos os que conviveram com ele nos últimos anos. Ver que essa bondade foi o ponto mais celebrado do tão esperado episódio tributo é talvez o maior mérito dele, pelo menos pra mim. Ouvir da boca de todos os personagens, de Rachel a Sue, o quanto esse traço fez a diferença me traz um certo alívio. Eu não preciso mais defender Finn Hudson e a sua bondade. Isso já faz toda a diferença do mundo.

Quando falo que esse é o principal mérito do episódio, já deixo claro que não gostei de muitos aspectos dele, mas dou um desconto e imagino que a reação a cada segmento do episódio equivale às diferentes reações de luto. Cada um recebe a notícia, canaliza, extravasa de uma maneira. Não dá para compreender todas, muito menos se identificar, e se isso faz com que o episódio tenha o potencial pra desapontar em alguns momentos, fica o registro de que eles provavelmente serão os favoritos de outras pessoas, e essa capacidade de causar respostas diversas deve ser aplaudida.

Uma coisa, no entanto, tem que ser unanimidade: Burt, Carole e Kurt como o ponto alto do episódio. Não tem como passar intacto pela cena cheia de nostalgia e arrependimentos em que eles juntam os pertences de Finn e, mesmo que você não tenha se encolhido, chorando, em posição fetal como eu grande parte dos fãs, provavelmente teve que tirar aquele cisco insistente no canto do olho. Todas as memórias trazidas à tona, da bola do primeiro jogo que eles ganharam juntos com a bizarra dança de Single Ladies à "lâmpada bicha" que causou tantos problemas na família, foram muito mais poderosas do que qualquer flashback, recurso que alguns não se conformam de não ter sido utilizado.

A revolta de Burt por não ter abraçado mais o enteado, o apego de Kurt à jaqueta do time e o discurso sofrido de Carole, que daqui pra frente vai ter que conviver diariamente com essa que é provavelmente a perda mais dolorosa na vida de uma pessoa, são muito mais significativos do que qualquer cena antiga em slow motion que poderiam recuperar.

A dita jaqueta, aliás, costurou várias das outras tramas e é aqui que começo a falar dos problemas, porque não adianta fechar os olhos e fingir que eles não existiram. Dos personagens que retornaram especialmente para a homenagem, Puck era certamente o que tinha mais motivos para se destacar, mas me perdoem a insensibilidade, eu ri alto no momento em que ele começou a gritar e quebrar as coisas no vestiário como um maníaco. A atuação de Mark Salling chegou no limite do ridículo e o ultrapassou em vários níveis, derrubando até Beiste, com quem sua dobradinha funcionou tão bem no passado. A coisa melhorou um pouco no final, quando a árvore foi replantada e os dois tiveram uma conversa até tocante sobre o traço que representava a vida de Finn entre e o ano de seu nascimento e de sua morte, mas aí já era tarde demais para esquecer as cenas anteriores, carregadas de vergonha alheia.

Por outro lado, Santana tinha tudo para ser muito mais exagerada e não o fez. Questiono esse apego súbito da personagem, mas entendo que foi justamente a questão da bondade, que abri no início do texto, que a fez agir assim. Santana sempre achou que ser agradável equivale a mostrar fraqueza, e esse provavelmente era seu maior problema com Finn. Ao admitir para Kurt as "coisas bacanas" que não teve a coragem de dizer, porque sentia vergonha, ela admitiu também um pouquinho da admiração que sentia pelo amigo falecido, com quem, afinal, teve seus momentos de abaixar a guarda, mesmo com todos os insultos e tapas na cara.

Sue também levou o seu tapa na cara de Santana, não necessariamente na forma de empurrão, mas nas palavras duras que, por um momento, me fizeram esquecer que estávamos diante da cheerio que aceitava todos os desmandes de Sue há dois anos, porque só conseguia enxergar uma grande atriz mostrando que era capaz de arrepiar até mesmo alguém do gabarito de Jane Lynch. Naya Rivera é provavelmente o grande destaque entre os atores regulares no episódio, ao lado de Chris Colfer. Isso só é reforçado na cena em que Kurt, não mais o garotinho assustado com a possibilidade de ser jogado na lixeira, mostra o tanto que aprendeu com o irmão, se desfazendo até mesmo da jaqueta para ajudar alguém que precisava daquilo mais do que ele, no caso Santana, não mais aquela garotinha preocupada com a própria vulnerabilidade.

Como não podia ser diferente, ri de Tina preocupada unicamente com a obrigação de continuar vestindo preto, o que remetia a seus tempos de gótica, e dos panfletos de Emma dando a dica de que o mundo não girava ao redor dela. Esperava um pouco mais de destaque para Artie, que foi constantemente um dos personagens mais afetados positivamente pela amizade com Finn, mas fico feliz pelo dueto com Sam, outro que teve a vida transformada pela interferência do homenageado. Surpreendentemente, não me incomodei com Mercedes, outra que interagiu pouquíssimo com o falecido e que não é das minhas personagens favoritas, cantando a música de Cory Monteith que mais gostei em toda a série. Não liguei muito para a situação de Will, impedido por seu próprio ímpeto de proteção com os outros, de chorar até o último minuto, e achei uma puta falta de sacanagem curioso que ele tenha ficado com a jaqueta, enquanto via Santana desesperada, oferecendo até mesmo uma recompensa pela peça, ou pedia que Puck a devolvesse caso fosse o culpado.

E claro, não posso deixar de falar de Rachel, e do quanto ela contribuiu com o episódio justamente por não se destacar. Declaração estranha, eu sei, mas explico: desde que toda a tragédia aconteceu, imaginei que o melhor caminho para uma homenagem do tipo era concentrar todas as histórias em Rachel. Imagino até que o sentimento seria outro se ela estivesse presente em mais tempo do episódio e que poderia ter gostado muito mais. Ao mesmo tempo, entendo que não seria realmente um tributo a Finn se o foco ficasse todo nela. É difícil separar os dois, especialmente depois de 4 anos com "Finchel" martelando na nossa cabeça, e exatamente por isso, a única maneira de celebrar Finn, sem o complemento, era com a diminuição de presença Lea Michele, que imagino que teria muitas dificuldades para gravar mais cenas, de qualquer maneira. Tivemos a nossa parcela de Finchel, afinal, ele era "a pessoa" dela. Mas o maior gesto de amor que Rachel Berry, a menina que se preparou a vida toda para ser uma estrela, podia dar ao homem que amou por tanto tempo, era justamente o de se apagar, mesmo que por pouco tempo.

O que mais eu posso falar de Finn agora que não preciso mais defendê-lo? Se "não existe lição a se aprender aqui, não existe final feliz, não existe nada", eu sinceramente não sei. No caso de Finn, que passou grande parte de sua trajetória perdido a respeito de quem era e do que queria na vida (e não somos todos um pouco assim), não faltaram lições. No caso de Cory Monteith, que batalha contra as drogas desde sua pré-adolescência, certamente não houve final feliz. O que podemos ter certeza de existir é esse traço, essa linha que não se sabe o tamanho entre o ano que nascemos e o que morremos. Que tal nos inspiramos um pouco em Finn Hudson e percorrê-la com o máximo de bondade possível? Pode soar bobo, mas eu sinceramente não me importo. Chega de me defender. Tenham todos uma bela linha!



Músicas do episódio:

"Seasons of Love" – Rent: Mercedes (Amber Riley), Mike (Harry Shum Jr.), Santana (Naya Rivera), Kurt (Chris Colfer), Puck (Mark Salling), Tina (Jenna Ushkowitz) e New Directions

"I'll Stand by You" - The Pretenders:  Mercedes (Amber Riley)

"Fire and Rain" - James Taylor: Artie (Kevin McHale ) e Sam (Chord Overstreet) 

"If I Die Young" - The Band Perry: Santana (Naya Rivera) e New Directions 

"No Surrender" - Bruce Springsteen: Puck (Mark Salling) 

"Make You Feel My Love" - Bob Dylan: Rachel (Lea Michele)

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7 comentários

  1. Lindo texto, Leo. Concordo com tudo, principalmente com o parágrafo final. E que todos tenhamos uma bela linha. =)

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  2. Fico feliz de ter sido a pessoa q mesmo o axando bobão sempre gostei de Finn, ao contrario de muita gente q sempre criticava ele, apesar de nun ser la grande ator, era engracado o jeito bobalhao dele de ser. Fico meio triste q as pessoas so agoram reconhecam a importancia dele pra Glee (não to dizendo q é seu caso Leo, nao mesmo). Mas fico feliz de ter sido cativado pelo personagem e pelo pouco q vi em entrevistas pelo ator. Serio, vou sentir muita saudade de ve-lo na serie, se fosse por um motivo qualquer seria mais facil superar, mas tendo morrido tão jovem é de ficar realmente triste. Ja q Glee tem tantos fãs q pelo menos as pessoas aprendam a respeitar os personagens/ atores mesmo q naum gostem e q procurem tomar boas decisoes nessa linha q todos estamos construindo. Lindo texto Leo. Parabens!

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  3. E que todos tenhamos uma bela linha.

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  4. Chorei, chorei e chorei mais. Achei que não ia chorar, mas não teve como.


    Eu particularmente acho difícil julgar atuação de choro e tristeza pq eu mesmo quando choro fico feio pra caramba e dá vontade de rir de mim...por isso eu vi esse episódio sozinho...ahuahauhauh

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  5. Nossa, nem sei como começar a falar... Faz tempo que não me manifesto aqui Léo, nas suas reviews e nas demais postagens do seriadores. Mas depois deste episódio e dessa review, eu tinha q falar alguma coisa. Falar por que nem mesmo eu tinha percebido que havia algo engasgado na minha garganta. Como Profº Shue, me privei de expressar até para mim mesma o impacto que foi a tragédia do Cory, e por conseguinte do Finn. Depois da notícia da sua morte (q fiquei sabendo pelo Jornal Hoje da Globo, pois estava viajando e sem acesso a internet), e de todas as notícias nos dias, semanas e meses depois, tudo que ouvia, ou lia, ou assistia, parecia estranho ou irreal. Não que eu fosse grande fã do Finn, mas eu gostava do Cory. Não vou discorrer aqui sobre quem era ele e o que transparecia ou representava, por que já foi muito bem exposto no episódio e nas demais homenagens.

    Como falei no início, realmente não sei o que dizer, só sei que não tinha percebido o impacto da sua morte até me ver chorando loucamente na frete da tela do computador, tendo que parar o vídeo, por que não conseguia ler a legenda, sendo que nunca, repito nunca chorei em cenas de série, filme, ou qualquer coisas do gênero antes. Foi aí que eu percebi o quanto a sua morte tinha me tocado...

    But, como o próprio Finn (ou Cory) disse: “The show must go... All over the place... or
    something.”

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  6. Eu fui a única que senti falta de Quinn ? Velho, ela foi uma personagem importante pra story line do Finn, principalmente na 1a temporada e como assim ela não aparece ? Achei sacanagem :x

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    1. A atriz preferiu não participar do capítulo porque ela tinha algumas divergências com o Cory.

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