Dracula 1x10: Let There Be Light (Season Finale)

26.1.14



Ao fim de Let There Be Light, último episódio da primeira – talvez única – temporada de Dracula, fica nítido que Cole Haddon, criador da série e roteirista desse episódio, acredita estar criando eventos realmente impactantes. Ele certamente pensou que o grande número de corpos, sejam figurantes ou personagens com alguma relevância, era um sinal de que tudo estava mais perigoso, que grandes eventos se desenrolavam, mas isso não poderia estar mais longe da verdade.

A pirotecnia e os corpos podem até criar um impressão errada a primeira vista, mas em uma análise um pouco mais cuidadosa fica claro como tudo não passa de um embuste para esconder sob o exagero as muitas falhas da trama e a incapacidade de se construir antecipação para momentos importantes.

A morte do principal vilão por exemplo é um amontoado de erros. A reação de Van Helsing diante da crença de que Grayson acabou com o plano dos dois é até coerente, mas a maneira como isso é demonstrado não poderia ser pior. Primeiro por que questiona, pela milésima vez, a necessidade de tal plano tão elaborado para destruir a Ordem do Dragão quando o líder da ordem e seus filhos podem ser tão facilmente mortos por um homem agindo sozinho. O segundo defeito reside no fato de que aquela cena é a concretização da vingança pessoal que movia Van Helsing, e o momento é tratado com uma indiferença absurda. Diálogos genéricos e cenas previsíveis – Van Helsing jogando o dinheiro no buraco a cereja no bolo de obviedade e os filhos escondidos nas sombras já denunciava o destino deles - tornam completamente esquecíveis esses momentos que deveriam ter importância.

A batalha da Ordem contra os vampiros convocados por Drácula é outra trama decepcionante. Se os capítulos anteriores sugeriam que esta seria uma grande batalha, na hora de vermos de fato a batalha, ela se limita a mostrar apenas dois vampiros. Esse é mais um grande exemplo da quantidade de histórias que tinham de ser mostradas em Let There Be Light e acabaram sendo condensadas sem jamais receber a atenção devida.

Claro, o principal evento do final de temporada era a exibição pública da máquina de Alexander e dimensão dos erros dessa trama só encontra par na importância que ela tem para a série. Todas as decisões que levam até a esperada explosão reforçam a incoêrencia e estupidez das atitudes de Grayson. Mesmo com tantos inimigos ele é incapaz de perceber como esta caindo no plano da Ordem. O vampiro se acha tão superior graças as suas estratégias rasteiras que aparentemente acredita ser invencível a ponto de não precisar sequer colocar uma segurança miníma para proteger um artefato que é tão importante. Pior: como ele ainda confia em Harker depois de tudo que já aconteceu?

O único acontecimento desse episódio que não se revela uma completa decepção – me pergunto se “decepção” é a palavra certa a ser usada, já que sugere haver alguma expectativa prévia – é a luta entre Jane e Drácula. Era um confronto inevitável e que, quando acontece, mostra uma disputa minimamente interessante entre um poderoso vampiro e uma caçadora habilidosa, o que é muito mais do que já havia sido mostrado em outros cenas, onde os vampiros eram mortos com uma facilidade espantosa.

Como nada nesse final esta livre de falhas, o discurso de Grayson sobre como deseja a vida é um resumo de todas as incoerências do personagem e da série. Ele deseja ter novamente sua humanidade mas se comporta de forma monstruosa sem remorso, assim como a série se apresenta como um jogo de intrigas e esquemas entre hábeis e poderosos adversários mas nada mais é que uma briga de crianças estúpidas que sempre acaba em sangue.



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2 comentários

  1. Shameless mostrando que é possível LITERALMENTE tomar no cu.

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  2. Olá Hadriel! É sempre bom ver resenhas bem estruturadas e bem argumentadas, embora em muita coisa eu discorde de seu ponto de vista.

    Permita-me colocar os pontos dos quais discordo, usando suas palavras mesmo:

    "Primeiro por que questiona, pela milésima vez, a necessidade de tal plano tão elaborado para destruir a Ordem do Dragão quando o líder da ordem e seus filhos podem ser tão facilmente mortos por um homem agindo sozinho." - acredito que isso seria simplismo e, sim, reduzir a série a um mero banho de sangue e a uma briga de crianças estúpidas, como vc mencionou em outra frase da qual já já vou falar. O "chefão" da Ordo Draco, Browning, fez o Professor Van Helsing testemunhas sua família ser morta e o deixou vivo para sofrer. O único defeito nisso é que Browning não sobreviveu para ver seus filhos transformados em monstros, uma dor talvez pior que a morte deles. O plano elaborado era para destruir a Ordem toda, e só foi por causa de um acesso de loucura que Van Helsing cometeu a imprudência de levar para o lado estritamente pessoal.

    "Esse é mais um grande exemplo da quantidade de histórias que tinham de ser mostradas em Let There Be Light e acabaram sendo condensadas sem jamais receber a atenção devida." - esse excesso de histórias e acontecimentos "impactantes" é um mal nas séries e filmes da atualidade. É preferível dosar equilibradamente os plots em 2 temporadas (se a próxima realmente acontecer) do que resolver tudo em apenas 10 capítulos. Informação demais combinaria se fosse uma série que retratasse nosso atual mundo, em que tudo corre na velocidade de um clique, não nos tempos vitorianos.

    "O vampiro se acha tão superior graças as suas estratégias rasteiras que aparentemente acredita ser invencível a ponto de não precisar sequer colocar uma segurança miníma para proteger um artefato que é tão importante. Pior: como ele ainda confia em Harker depois de tudo que já aconteceu?" - olha, naquela época coisas como segurança do trabalho, vigilância sanitária, segurança em experimentos científicos praticamente inexistiam. Quantos cientistas morreram ou causaram em si e em outros danos ou doenças terríveis enquanto faziam suas descobertas (vide o casal Curie)? Pensar que Alexander/Vlad se importaria com esses detalhes técnicos tão "século XXI" é soar inverossímil. Quanto a Harker, só no último instante ele descobriu o verdadeiro caráter do jornalista, pois infelizmente, na série, Dracula não tem o poder de ler pensamentos.

    "Como nada nesse final esta livre de falhas, o discurso de Grayson sobre como deseja a vida é um resumo de todas as incoerências do personagem e da série. Ele deseja ter novamente sua humanidade mas se comporta de forma monstruosa sem remorso, assim como a série se apresenta como um jogo de intrigas e esquemas entre hábeis e poderosos adversários mas nada mais é que uma briga de crianças estúpidas que sempre acaba em sangue." - Van Helsing e a maioria dos membros da Ordem são ainda humanos em tese, e capazes de desumanidades ainda piores que as de Dracula. Na vida real sabemos que existem pessoas assim. Não vejo como poderia soar incoerente uma pessoa agir por vingança e ainda assim desejar a humanidade. Terei que usar um argumento piegas, mas acho que é o único: o que "humanizou" o personagem principal foi o amor, mas ao mesmo tempo, isso o levou a ser cruel. É compreensível, se pensarmos que isso é algo inerente à natureza humana.

    É isso aí, escrevi demais rs! Estou torcendo para que a série pelo menos seja encerrada com dignidade em uma segunda temporada, pois ficaram muitos fios soltos. E, sim, prefiro que as histórias interessantes às quais vc se referiu sejam desenvolvidas om toda a calma do mundo durante essa temporada!

    Abraços!

    Carol.

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