Pretty Little Liars - A revelação de -A

12.8.15


Ninguém nasce uma pessoa ruim, as situações na vida a fazem ser.

Se você não assistiu ao episódio do dia 11/08 no qual finalmente Big -A foi revelado, então não continue a ler, porque aqui terá uma chuva de spoilers. Assista e depois venha ler, ou se você não se importa com spoilers, continue.

Na summer finale de Pretty Little Liars intitulada como ''Game Over, Charles'' tivemos a grande revelação que muitos esperam durante 4 temporadas. Sim, quatro. Apesar de muitos falarem que esperaram 6 anos por isso, você está louca querida. Por duas temporadas tivemos Mona como -A e logo depois, o jogo foi roubado dela.

Se você é um desses que não viu PLL a finale e nem quer ver aqui vai um resumão do principal: Os DiLaurentis tiveram um filho mais velho antes de Jason e Alison, seu nome era Charles. Charles nasceu em um corpo biológico de um menino mas sempre se identificou como uma menina. Jessica, a mãe, sempre aceitou o filho e o deixava brincar de bonecas e se vestir com suas roupas, mas Kenneth, o pai, nunca aceitou isso no filho. Quando Alison nasceu, Charles a amava muito, queria sempre cuidar dela e estar perto. Um dia, quando a irmã estava chorando e Charles não conseguia chamar a mãe para ajudar, ele levou a irmã para fazer algo que o acalmava, tomar um banho, mas como toda criança e não sabe direito o que faz, ele colocou Alison na banheira quase matando a irmã. O pai tirou Alison da banheira e achou ali que tinha sido demais e internou o filho em Radley por ele estava ''louco''. Passando-se anos, Jessica era a única que visitava a filha (vamos tratar até então Charles, como uma menina, o que ela é) e tudo que comprava a Alison dava pra outra filha. Charles em Radley teve uma amizade forte com Bethany, uma garota que também estava internada lá. 

Um dia, os dois estavam no telhado de Radley e Charles estava se sentindo livre, usando um vestido que sua mãe havia lhe dado quando Marion, a mãe de Toby ali apareceu. Charles não poderia mostrar a ninguém que se vestia como uma garota então se escondeu. Bethany teve alguma certa discussão com Marion e a empurrou do telhado a matando. Bethany acusou Charles de a ter jogado pelo telhado e como ninguém acreditaria em um ''menino'' que se veste como menina, ele ficou quieto. Ele foi diagnosticado com a mesma doença mental que Bethany.

Passado alguns muitos anos, Jessica fez um enterro de Charles para enterrar o filho e aceitar de vez sua filha. Charlotte. Kenneth então, achava que o filho tinha morrido.

Jessica continuou a ver a filha e comprar as mesmas roupas que dava a Alison e conseguiu com que ela visse algumas aulas na faculdade, já que Charlotte queria sair de Radley e se esforçava e estudava pra isso, foi quando ela conheceu Jason, seu irmão e se apresentou pela primeira vez como CeCe Drake. Jason e CeCe namoraram ali, mas CeCe nunca fez NADA com Jason, ele era seu irmão e aquilo seria nojento (como ela mesmo diz). Então Charlotte conheceu Alison e se tornaram amigas. 

Na noite do celeiro onde todo o mistério acontece, Bethany pegou uma das roupas de Charlotte e fugiu se passando por ela, Charlotte tinha alguns privilégios por seu bom comportamento, logo, ela foi atrás da Bethany. Quando chegou na sua casa, viu Alison com a roupa que Bethany fugiu de Radley e achou que essa era a amiga e não a irmã, então jogou a pedra na cabeça dela com raiva naquele momento, só que não era Bethany e sim Alison. Jessica viu tudo e para ''salvar'' uma das filhas enterrou Alison, pagou Wilden para encobertar tudo e Charlotte voltou para Radley achando que tinha matado a irmã.

Depois de anos, Mona foi internada em Radley, logo depois de ser descoberta como -A e ela estava tão dopada de remédios que achava que Charlotte era Alison. Mona contou tudo a ela do que fazia e Charlotte ficou interessada no jogo em que ela jogava e foi quando ela foi pra Rosewood conhecer as amigas dela. O que deixou ela nervosa foi o fato da irmã ter morrido e as amigas estarem felizes e não sentirem falta da irmã como ela sentia, foi então que ela começou a jogar o jogo de -A.

Depois de um tempo, ela descobriu que Alison estava viva, ela matou Wilden pois o mesmo não deixaria a irmã confessar o que aconteceu naquela noite, depois que foi acertada na cabeça.  Charlotte tentou parar de jogar, mas não conseguiu pois aquilo era um vício pra ela e  chegou até o que chegou hoje.

Depois desse resumo nada resumido, vamos falar sobre Charlotte.

É normal quando se é um fã da série e não gostar da finalização, mesmo com muitas pontas fechadas e ainda muitas soltas, não da pra julgar quem não gosta do que é mostrado, cada um tem o seu gosto e ninguém é obrigado a nada. O que não é normal é ser preconceituoso. Ninguém estava cobrando coerência quando Wren era apontado como -A e se fingia de médico. Mas vamos esquecer dos furos, "o cara é gato" precisamos ter mais um boy magia na série. (eles diziam)

O que me fez escrever esse texto foi o tanto de comentário transfóbico que li desde que o episódio revelou quem era -A.

É "normal" nessa sociedade em que vivemos machista, racista, homofóbica e transfóbica você ter milhões de preconceitos, o que não é normal é você compactuar com eles e nem se esforçar para entender o lado de quem vive eles e desconstruir a si mesmo. 

Vamos falar sobre Charlotte em específico, o maior dos comentários foi: "Ele é homem", "Jason não viu que ele tinha algo a mais", "Tentamos descobrir se -A era homem ou mulher , e na verdade é os dois". Parem, apenas parem. Não da pra perceber o tanto de comentário preconceituoso são esses. Primeiramente, Charlotte é uma mulher então deve ser tratado no pronome no qual ELA QUER. Ela não é o dois. Ela é uma mulher trans  ou travesti.  Então parem de tratar Charlotte como ele e sim como ELA. 

Entendendo este ponto, vamos para o próximo. Durante a finale e durante os flashbacks em NENHUM MOMENTO os motivos de Charlotte jogar o jogo de -A foi pelo fato de ser uma pessoa transgênero. Gostaria de bater palmas pra Marlene King que fez isso acontecer. As situações que ela enfrentou na vida e o amor pela irmã a fizeram ser daquele jeito. Tanto, que no flashback que Charlotte vê seu pai pela primeira vez, como ela mesma no corpo que ela se sentia,  ela não olhou o pai com ódio. Ela olhou feliz pra ele e se apresentando, mesmo com um nome falso, era a vez dela se mostrar para Kenneth como ela é e ele havia gostado dela.

Eu não sou um expert em pessoas trans mas quando não sei algo eu vou atrás para saber. Leio muito, vejo vídeos, filmes, documentários, depoimentos até entender BEEEEEM POUCO sobre o acontece. No caso de Charlotte era nítido que ela só queria ser aceita por quem ela era. E naquele momento, mesmo ninguém sabendo de nada, ela era aceita por quem ela era. Era uma das melhores amigas da irmã, era ''namorada'' do irmão (ok, creppy, mas move on), o pai gostava dela e tinha uma mãe que sempre fez de tudo pra ela. Ela estava sendo ela mesma  com a sua família.

Esse sempre foi o objetivo de -A, juntar a sua família, mas as coisas nem sempre acontecem como esperamos. Varios plot twists, varias pessoas no caminho até que tudo que aquilo que sonhamos, às vezes não é o que temos.

Charlotte é uma pessoa ruim? Definitivamente não. Ela teve maus direcionamentos e escolhas nas quais a tornou no que ela é hoje. Muitas pessoas trans passam por isso. Nem toda trans ou travesti quer ser prostituta, mas esse é o único emprego que elas conseguem desde sempre. Se você acha que não, enumere quantas pessoas trans você já trabalhou ou estudou até hoje na sua vida. Eu com quase 3 décadas nas costas não consigo enumerar nenhuma. Muitas mulheres trans e homens trans tem ZERO apoio da família, são expulsas de casas  e morrem TODOS OS DIAS só por quererem ser o que elas realmente são. É pedir demais querer ter uma vida normal só por querer ser quem você é? Ninguém nasce querendo ser homem, mulher, trans ou intersexual. É um fato da vida, a gente nasce e não escolhe nada e ao passar dos anos a gente se identifica com o gênero que queremos ser. Hoje em dia esta menos ''ruim'' você se revelar como uma pessoa transgênero, por isso muitas pessoas com uma idade mais avançada finalmente podem viver num corpo que realmente sempre quiseram pela sua vida toda. Não que é moda, como muita gente diz.

Hoje em dia o mundo é mais livre e isso é ótimo, mas nem por ser mais livre é menos problemático, só que agora está estampado mais as coisas.

Voltando a Charlotte, tudo isso que ocorreu na vida dela não a ausenta da culpa de matar uma pessoa e torturar tantas outras. Ela merece sim sua punição, mas não da pra ignorar o que faz uma pessoa chegar nesse ponto pelo seu isolamento perante a sociedade.

O último ponto é que depois de revelar tudo, Charlotte se mataria. Como a bomba não havia dado certo, ela iria pular do prédio e se matar ali. Esse é outro fato que acontece com MUITAS PESSOAS TRANS. Elas não aguentam a pressão da sociedade IMPONDO que elas não devem ser quem elas querem, ou que elas são aberrações, e isso muitas vezes é duro de aguentar. Uma sociedade onde muitos dizem que você é o errado, no final, você acha que é e decide terminar com a sua vida pra que aquilo acabe e logo. É só imagina uma vida em que você sabe o que é e onde quer chegar e as pessoas dizendo que você esta indo pelo caminho contrário. Não é fácil. E para Charlotte, naquele momento, era sua última saída. Terminar com sua vida.

Gostaria de mais uma vez parabenizar Marlene King por essa introdução do plot de Chalotte pois quase nenhuma série faz isso. Se você assiste Orphan Black, Tatiana Maslany em um dos seus clones fez um homem trans, apesar de não ter ficado bom nem a interpretação e nem a maquiagem, foi representativo. Homens trans ficaram felizes em serem representados numa série em que muitos assistiam e o mesmo pode acontecer com Pretty Little Liars. Crianças e adultos trans podem se relacionar com algumas vivencias de Charlotte e o que ela passou. Isso se chama representatividade. Ter negros, gordos, homossexuais, transgêneros em séries é importantíssimo para que todos se sintam representados ali e serem ouvidos.

O certo mesmo era uma pessoa trans fazer esse desabafo, mas como já foi dito, muitas delas não tem esse acesso que outras pessoas privilegiadas tem e cabe a nós fazer essa ponte para que um dia elas mesmas podem comentar sobre o que elas são e o que nós cisgêneros fazemos de errado para podermos melhorar e evoluir. As mulheres e homens trans ou travestis precisam ser ouvidas. 

PS: Desculpem se houve algum furo na história de PLL, o texto não é sobre a série em si e sim um personagem, o que importa no momento.
PS²: Vai ter textão sim e se reclamar, vai ter mais textão. 

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2 comentários

  1. Quanto mais tipos de pessoas representadas na tv melhor :) .Li o textão e nem vejo a série kkkk

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  2. Texto maravilhoso e muito explicativo.
    Parabéns, Z.
    E adorei essa finale. CeCe merece uma.nova vida.

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