Mad Men: Season 02

2.5.11


Após o longo texto que escrevi sobre a primeira temporada da aclamada "Mad Men", o que mais me impressionou nesse segundo ano foi o modo como apreendi o poder que a série tem em meio a tantos elogios. Eu pude finalmente comprovar qual é a essência de "Mad Men"; ligar-me ainda mais aos personagens; atribuir novos valores, e principalmente, reconhecer que tudo faz jus a excelência que ela possui.

Particularmente, uma das coisas que mais prezo em uma história bem contada, seja na TV, no Cinema, na Literatura, etc., são personagens bem delineados, que não são inteiramente bons, ao mesmo tempo em que não é reduzido às ações más. Quanto mais tridimensionais, melhor. Don Draper, o personagem central vivido de maneira exemplar por Jon Hamm, sempre demonstrou essa peculiaridade. Mas nessa segunda temporada, é notória sua evolução nesse quesito. Conhecemos ainda mais – mas não inteiramente - o que se passa na cabeça do maior publicitário da Sterling Cooper. E saber que ele leva uma vida oculta e que cada dia está mais saidinho é fascinante.

Isso não é exclusividade de Don Draper. Praticamente todos os personagens são evoluídos, contribuem para o bom desenrolar das histórias. E o melhor. São IN-DE-PEN-DEN-TES. Isso quer dizer que nenhum ali está em função de Don Draper. Até mesmo Betty (January Jones), a esposa, não se esconde na sombra de Don. Ela, logo na primeira temporada, foi mostrada como a típica esposa vendida no american way of life, mas que estaria à beira de um ataque de nervos, capaz de sacar uma espingarda e atirar nas aves do vizinho (parece que esqueceram completamente do seu problema com as mãos). No seu segundo ano, grávida, ela está infectada pela desconfiança quanto à infidelidade de seu marido. E isso reserva boas tensões.

Outro ponto que considero de extrema importância para qualificar uma obra, porém mais ligado à séries de TV, é a não interferência da audiência no desenvolvimento do projeto. Saber que "Mad Men" é uma série hospedada em um canal fechado e que zela pela qualidade acima de tudo (a AMC) já dá um certo alívio. Se fosse um programa de TV aberta, é possível que não sobrevivesse por muito tempo. E caso os telespectadores comprassem a idéia, a influência da audiência e a pressão de um canal que visa obtenção de anunciantes em segundo plano faria com que a série sofresse inúmeras intervenções. Se para melhor ou pior, isso não é a questão. O que importa é que tudo seja fiel ao que o criador Matthew Weiner criou à sua maneira. Tudo íntegro.

Nesse sentido, "Mad Men" é implacável. Se no primeiro ano, muitas situações me levavam a crer que eram apenas véus para elucidar a direção de arte impecável da série, na segunda temporada a coisa se configura de forma diferente. Da minha parte, é claro. Muitos elementos que antes pareciam sem projeção influenciaram em novos acontecimentos, fazendo com que diversas situações fizessem sentido.

Um exemplo: Peggy Olsen (Elizabeth Moss), uma das personagens mais interessantes dali, no início era vista como uma secretária comum daquele setor. Subjugada e vítima em potencial do sexismo vigente dos anos 60. Ainda naquele primeiro ano, ao ver uma cesta cheia de guardanapos que suas colegas jogaram após testarem um batom para uma empresa de cosméticos, ela lança “uma cesta de beijos” que os publicitários do escritório acham genial, e usam numa campanha para a marca de batom, que faz sucesso. Todo o tempo gasto nessa situação, numa lentidão já característica de "Mad Men", impulsionou a personagem, que nesse segundo ano, se encontra em (quase) igualdade com os 'homens loucos' da Sterling Cooper. De secretária, agora a acompanhamos no departamento de criação. O que não é pouca coisa para uma mulher inserida nesse contexto histórico.

Infelizmente, todas essas qualidades incontestáveis ainda se encontram numa série calma, com muitos devaneios, o que pode torná-la aborrecente. Eu, apesar de reconhecer todas essas qualidades, sei que a intenção dos produtores da série é mantê-la num status de tamanho requinte, que a aproxima de premiações e aplausos da crítica (foi ganhadora do Emmy e Globo de Ouro de Melhor Série pela segunda vez consecutiva por essa temporada), mas a afasta do público em geral. Eu confesso que não encarei bem essa pretensão de imediato, mas a partir do momento em que me dei conta que muita das qualidades que eu sempre espero uma série de qualidade estavam lá, mesmo que pontuados, já foi suficiente para eu me tornar mais um fã chato de "Mad Men".

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