Desperate Housewives 8x22/23 Give Me The Blame / Finishing The Hat (Series Finale)

15.5.12


"Essa rua representa muitas coisas. Tédio não é uma delas."

Nada poderia definir melhor Wisteria Lane do que essas palavras de Susan. Durante esses 8 anos de série (para os personagens, muito mais do que isso), acompanhamos cada segredo, cada tentativa desesperada de mascarar o que realmente acontece nos subúrbios, por trás dos jardins perfeitos, dos sorrisos plastificados e das fachadas, sejam elas das casas, sejam num sentido mais amplo.

Vimos a vida desses personagens ruir e ser refeita, pedaço a pedaço, diversas vezes. Descobrimos que o poder de destruição de um tornado se assemelha ao de um singelo bilhete ameaçador. Percebemos que numa comunidade aparentemente atrativa para psicopatas, existe também a sua grande parcela de pessoas que fariam de tudo para proteger seus vizinhos, que abdicariam sem hesitar de suas fachadas para defender o que realmente importa.

E se passamos por tudo isso, nada mais justo do que exigir um final à altura dessa saga, fechando mais uma vez o ciclo (já que ao longo da série, foram muitos) e fazendo justiça ao envolvimento que tivemos com essa comunidade da qual fizemos parte. Será que Desperate Housewives conseguiu entregar esse final? Sem querer estragar a surpresa, mas a resposta é: hell to the yeah!


Episódio 8x22 - Give Me The Blame

Era uma vez um jantar progressivo... Assim começa a trama principal da 8ª e última temporada, com as quatro protagonistas mancomunadas para encobrir a morte de Alejandro/Ramón, o ex-padrasto abusivo de Gaby que foi assassinado com um candelabro por Carlos, que embora tenha agido em legítima defesa, não podia arriscar mais um processo judicial depois de duas prisões. A história pode até ter caminhado a passos muito lentos durante parte da temporada, mas culiminou num julgamento tão sensacional que automaticamente os pequenos erros ficam perdoados.

Desde a desconstrução da imagem de Bree como mulher exemplar de Fairview, passando pela culpa de Gaby, decidida a contar sobre o abuso que sofreu e assumir toda a culpa pelo assassinato, enfim virando o jogo e se sacrificando por Carlos, como ele fez desde que se casaram, até a inacreditável confissão de Karen McCluskey, aproveitando os últimos momentos de vida para livrar as vizinhas (e como pôde finalmente descobrir, amigas), todos os elementos foram muito bem colocados na situação. Não podemos esquecer que Bree carregava uma culpa enorme pelo fato de Andrew ter atropelado a mãe de Carlos, lá na primeira temporada, e esse sentimento de proteção com os Solis tinha todo o motivo de existir, prejudicando até o possível romance com Tripp, seu advogado, quando ele decidiu acabar com a farsa e colocar Gaby de novo no banco de testemunhas. A parte da culpa de Gaby, embora tardia, também foi um deleite de se acompanhar, principalmente na hora em que ela impede Carlos de entrar no tribunal escondendo um canivete em sua roupa para que o marido fique preso no detector de metais. Prova de amor é isso aí!

Menos envolvidas no julgamento, Susan e Lynette também tiveram tramas pra lá de importantes. A primeira, depois de causar cachoeiras de lágrimas em todos os episódios após a morte de Mike, voltou aos tempos de leveza, sem saber como contar às amigas que se mudaria de Wisteria Lane para ajudar Julie a criar o bebê longe de casa. Podem me chamar de maluco, mas pra mim a relação das duas sempre foi um ponto alto na série, mesmo quando não muito explorada, e ver Susan sozinha, mas em paz,  abrindo mão da vida no subúrbio para ajudar a filha foi um encerramento muito mais digno do que apenas deixá-la feliz para sempre em Wisteria Lane com Mike. No início da série, Susan estava surtada pelo abandono de Karl e Julie é que fazia o papel de mãe dos dois, sempre administrando as crises e fazendo o papel de responsável da família. Agora que Julie finalmente teve seu grande ato de irresponsabilidade, chegou a sua vez de ser cuidada.

Já Lynette encerrou a primeira parte do series finale com aquela cena que é provavelmente a responsável pela maior quantidade de choro que a série já me provocou (e olha que não foram poucas cenas que fizeram isso). Durante a temporada, nos convenceram em diversas situações que o casamento dos Scavo não tinha mais jeito e que o melhor era mesmo o divórcio, só para nos provar errados na reta final e, depois de muitos desencontros, reatarem naquela cena linda no meio da rua. Foi o discurso de Roy, prestes a perder Karen para o câncer, que motivou Tom a não deixar nada "não dito" e se declarar para Lynette, mesmo achando que ela já tinha seguido em frente. Para a surpresa dele, não para a nossa, Lynette também tinha muitas coisas "não ditas" para revelar e a reconciliação deles, no último minuto, não podia ser mais bonita.


Episódio 8x23 - Finishing The Hat

Julgamento encerrado, trama da temporada fechada, é hora de dar início à despedida da série como um todo. E que maneira melhor do que nos levar ao momento em que tudo começou, com a chegada de Mary Alice a Wisteria Lane? Já conhecemos a história da narradora da série por todas as óticas possíveis, sabemos exatamente como termina, mas é impossível não ficar em pânico quando Martha Huber, a responsável pelo suicídio da dona de casa e pelo pontapé inicial para tudo o que acompanhamos nesses anos todos, começa a meter o nariz onde não é chamada. Também não é à toa que Marc Cherry escolheu esse momento, em que uma moradora de longa data dá as "boas vindas" para uma nova residente, para iniciar o derradeiro episódio da série. Mais do que homenagear Mary Alice e sua importância para a história, ele deu a deixa perfeita para amarrar a série de forma sublime.

Como Desperate Housewives é um belo novelão, os três eventos escolhidos para marcar os momentos finais de Wisteria Lane não podiam ser outros: um casamento (de Renee e Ben), um nascimento (da filha de Julie) e uma morte (de Karen McCluskey, a velhinha ranzinza mais adorada da TV). A cena em que os três momentos são entrelaçados, com os personagens divididos entre os núcleos, a edição mais pontual impossível e a música de partir o coração é apenas um dos momentos de tirar o fôlego do episódio, que a cada nova cena, a cada referência ao passado, reforça a sensação de dever cumprido e mostra a verdadeira recompensa que foi acompanharmos a vida dessas pessoas até esse momento.

Gabrielle Solis, a "moça fútil" de Wisteria Lane, tem o final que provavelmente é mais simbólico do ciclo fechado. Ela começou a série traindo o marido, que a deixava de lado por conta do trabalho, com o jardineiro e agora se vê do outro lado da moeda. Tendo finalmente se encontrado como personal shopper (e que profissão seria mais digna de Gaby, certo), ela se vê compensando a ausência com presentes caros, chegando até mesmo a roubar frases de Carlos, que nada bobo, contrata uma nova jardineira gostosona para mostrar à esposa o que está acontecendo. Embora a traição não se concretize, é hilário ver a hesitação de Carlos, considerando a possibilidade quando Carmen, a jardineira, lança um olhar sedutor.

Não tão hilário, mas igualmente satisfatório, é perceber junto com Gaby que, embora sua realização profissional tardia seja importante, o casamento e as garotas são muito mais. No futuro distante anunciado por Mary Alice, Gaby se tornou uma espécie de Oprah, inspirando pessoas mundo a fora com seu programa de TV que certamente mantém muito de sua futilidade com as novas características da mulher que se tornou. Assim, ela terá que encontrar equilíbrio entre a carreira e a família, um tema muito recorrente não só na série, como na vida.

E é justamente nesse tema que Lynette Scavo, a mulher que abandonou a carreira para cuidar dos filhos, se vê envolvida novamente. Após receber uma proposta de trabalho de Kathryn, que descobriu não gostar mais de mulheres e agora desconta a frustração sexual nos negócios, a personagem mais forte da série se vê em mais uma crise com Tom. É impossível escolher um lado no eterno conflito dos Scavo, porque embora seja óbvio que Lynette se sacrificou muito mais do que Tom em prol do casamento, ele está certo em afirmar que ela sempre precisa de um novo elemento para ser feliz. Mas não precisamos todos?

É aí que Lynette surpreende, discorrendo sobre isso no discurso do casamento de Renee, e mostrando ao marido que, embora a dificuldade de conciliar a vontade de ser uma mulher de negócios com a criação da tropa de Scavinhos (que se reuniram todos no episódio anterior à finale, mas não nesse, me deixando um pouco contrariado) seja aparente, ela sempre foi feliz com o que tinha e só estava, como qualquer pessoa de ambição, buscando mais. E Tom, emocionado e finalmente baixando a guarda, decide apoiá-la na mudança para New York, onde descobrirá a felicidade de ser CEO.

Vale lembrar que no episódio piloto Lynette encontra uma colega no supermercado, que nada sutilmente a critica pelas decisões que tomou sobre largar o trabalho. Nesse episódio, a mesmíssima mulher está lá, com o veneno de sempre, questionando a importância dos Scavo e trazendo à tona seus sentimentos de insatisfação. Para a nossa alegria e desgostoso da "vadia do supermercado", Lynette provou que pode sim ter o melhor dos dois mundos.

Renee Perry não decepcionou, atenuando todo o drama das quatro protagonistas com muitas cenas de comédia surreal, provando que é mesmo a maior bitch de Wisteria Lane. A palavra bridezilla ganhou um novo significado com essa mulher, que esculachou Ben por tentar vê-la antes do casamento, usou a barriga de Julie para esticar as pernas na limusine, induzindo o parto da moça, e ainda obrigou Gaby a escolher um novo vestido (já que o atual estava coberto de água de placenta) antes de levar a grávida para o hospital. Ainda assim, não deu para não se derreter quando, depois de todos os surtos e falta de consideração com os demais, Renee ouviu de Ben um singelo "você nunca esteve tão bonita".

É impressionante que uma personagem na série há apenas 2 anos e com tantas falhas de caráter conquiste tanto a simpatia do público e tenha o seu final feliz comemorado com entusiasmo. Logicamente, Ben e Renee não tem a importância que as quatro principais e seus pares têm na série, mas cumpriram o seu papel como coadjuvantes e é admirável que a ricaça divorciada tenha encontrado alguém que a aceite independente do quão difícil ela se mostre.

O que nos leva a Bree Van De Kamp, o símbolo máximo da palavra "fachada" e, consequentemente, da série. Bree teve uma trajetória inconstante, viveu todo o tipo de reviravolta possível e, por muitas vezes, foi um ponto baixo na série pra mim. Seu final, no entanto, foi um dos meus favoritos e honrou todos os bons momentos (que também foram muitos) da personagem.

Nessa temporada, descobrimos a origem da "máscara" de Bree, ensinada por sua mãe para não mostrar fraqueza para os homens de sua vida. Essa mesma máscara foi o grande motivo de críticas que sofria do primeiro marido, Rex, e dos filhos, Andrew e Danielle, que não se conformavam com a imagem de mulher perfeito e o "comercial de margarina" em que a família vivia. Foram precisos muitos pares românticos, uma batalha contra o alcoolismo e sua derrocada total para que Bree finalmente encontrasse um homem que a via através da máscara, conhecia todas as suas falhas e mesmo assim a queria como companheira.

Tripp foi uma adição de última hora, um dos típicos "milagres" de final da série para que uma de suas protagonistas não terminasse sozinha, mas se encaixou perfeitamente no elenco e na vida de Bree, deixando-a confortável com a mulher que existia por trás da fachada. Assim como Gaby e Lynette, Bree teve uma mudança de carreira drástica, se juntando a um grupo de mulheres conservadoras e ingressando na vida política, o que é mais do que condizente para alguém que passou a vida forçando sorrisos.

E pasmem, foi Susan Mayer a dona de casa com o final mais aberto na série, e por isso mesmo o meu favorito. Na primeira temporada, Susan representava o papel da típica mocinha de TV. Era a única das quatro sem par romântico, algo que seria desenvolvido pelo resto da série em sua jornada com Mike; não tinha grandes falhas de caráter, era amiga, prestativa e de bom coração. Para a nossa surpresa, a jornada épica de Susan e Mike Delfino foi desfeita a alguns episódios do grande desfecho e o que sobrou foi a Susan mãe de família, forte e centrada, muito diferente daquela mocinha atrapalhada que se trancava nua do lado de fora da casa.

Não sabemos se Susan se casou de novo, como continuou sua carreira ou o que exatamente aconteceu com ela depois que se mudou com Julie e MJ. "Uma pessoa sabe que ficou velha quando suas memórias se tornam mais importantes do que seus sonhos", é o ditado proferido por Susan antes de explicar à filha que as possibilidades são infinistas e que ela pode, sim, ter um outro grande amor, mas que as recordações do que já viveu são o suficiente para deixá-la viver feliz independente disso. Para alguns esse final pode ser o mais triste do mundo, mas pra mim é o mais satisfatório. Quem quiser imaginá-la feliz da vida, vivendo altas trapalhadas em uma nova vizinhança vai ficar satisfeito, e quem achar que ela vai ser uma velhinha saudosa, contando a história de seu último grande amor, Mike, para os netos também.

Susan também foi a primeira a deixar a rua – eventualmente, todas foram embora e, embora tenham feito uma promessa de arranjar tempo, nunca mais se encontraram para jogar pôquer as quatro juntas, o que é triste, mas dolorosamente real. Em sua última volta pelo quarteirão, foi observada pelos fantasmas daqueles que passaram por Wisteria Lane, numa cena que muito me lembrou Six Feet Under, mas que por incrível que pareça, me pareceu ainda mais impactante. Coube a Susan dar as boas vindas à nova moradora, que chegava com um terrível segredo, assim como Mary Alice no início de tudo. Porém, ao contrário de Martha Huber, Susan estava muito mais interessada em garantir à moça que ela teria muitas histórias para contar da vida no subúrbio. Afinal, essa rua representa muitas coisas. Tédio não é uma delas.

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11 comentários

  1. Leo, obrigada por essa linda review.Nossa, como vou sentir falta dessa serie!!!!
    Foi muito, lindo chorei litros aki, pra mim o final foi perfeito.
    Então adeus Desperate Housewives, obrigada pelos maravilhosos oito anos juntas!!!!!!

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  2. :D
    ótimo texto
    nos dez minutos finais eu chorei horrorosamente, foi mto mto mto bom
    DH nunca vai sair do meu top 5.

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  3. Review tão perfeita quanto o episódio e a série como um todo.
    Espero por SAMzinho de Desperate Housewives, afinal depois de 8 temporadas as donas de casa merecem =D

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  4. Nossa chorei muito na sequencia final!!! E olha que eu parei de assistir DH na 5 temp.

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  5. Chorei Litros com essa finale!
    Com a volta de Tom e Lynette,Com a morte da Sra McClusky,Com o discurso de Lynette,Com a promessa das amigas se reencontrarem e com a volta de Susan por Wisteria Lane com os seus moradores e segredos!
    Sentirei falta das amigas e de Wisteria Lane!
    Mesmo com altos e baixos não se pode negar que DH foi e será um marco na TV!
    Valeu Leo por escrever essa review tão boa!

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  6. Leo seu lindo , Essa review arrancou lagrimas do meus olhos . de verdade
    Vou sentir muita falta de DH , com certeza marcou a minha vida.
    Mas fico feliz de ver uma série que eu tanto amo acabar dignamente , e em uma otima temporada.
    Pq é muitooo triste quando vc começa amando uma série e com o tempo passa a ficar cansado dela (aconteceu cmg com :Greysa , Private Practice , Weeds e Supernatural)

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  7. Fiquei mto feliz qdo vc resolveu fazer essa review de DH. Alias, nada mais justo depois dessa finale tão boa e emocionante.

    Texto lindo, Nem. Chorei qdo li em off e chorei td de novo agora bãã. Serie linda e finale perfeita

    Bjoss

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  8. Ótima Review. Chorei muito nos últimos episódios, ainda mais no final. Gostei da comparação com Six Feet Under, realmente o final me lembrou também, ainda mais quando terminei SFU há menos de um mês. Não esperávamos por isso na cena final, mas acho que nunca vou ficar tão chocado quanto fiquei com os últimos 5 minutos de SFU. E Marc Cherry fazendo a mudança, caraca, na hora me veio na cabeça um "WHATAHELL?". Muito bom. É isso que Desperate sempre fez comigo, conseguiu arrancar lágrimas e risadas numa mesma cena. Por isso está sempre no meu TOP #1.

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  9. Só eu que fiquei decepcionado pelo ultimo episódio n ter passado a música tema de entrada completa?
    http://www.youtube.com/watch?v=aR0jKlwE0zI (essa)

    PS: o episódio foi ótimo e a review tbm.

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  10. Infelizmente virou mania na TV sumir com as aberturas completas, eu também acho que deviam ter colocado toda :(

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  11. Assisti so agora em 2016, mas estou apaixonada pelos personagens, e desesperada pois estou na oitava temporada e esta chegando o fim, me sinto parde do Wisteria Lane como ficar sem ver esse lugar maravilhoso.

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