A Menina Sem Qualidades 1x01/02/03/04: Semana 1

31.5.13


Aparentemente sem atrativos. É preciso se apaixonar por ela.

Essa semana estreou a produção dramatúrgica da Mtv nacional A Menina Sem Qualidades. Muito anunciada pelo canal, a série adapta para as telinhas a obra filosófica de Juli Zeh, homônima, que procura retratar o comportamento da Geração Y frente ao niilismo e a enxurrada de informações que a mesma sofre diariamente, e que à faz crer ser detentora de todo o conhecimento universal. Confesso ter tido apenas um contato superficial com a obra literária, porém pelo pouco que pude notar, ela discute tópicos profundos, é um daqueles romances interessantes de se ler, que durante a sua narrativa, dialoga muito com a questões filosóficas, como Dostoiévski, Kundera, entre outros.

Porém a adaptação de uma obra tão abstrata e tão questionadora para à televisão, nem de longe é uma tarefa fácil. Felipe Hirsch em uma de suas poucas obra frente ás câmeras, encara o desafio de desmistificar tudo isso para um público que apenas assiste, e não muito lê. A mágica da literatura na série é o tempo todo brincada com um estado superior de espirito, algo para os superdotados. Então como atrair o senso comum para esse universo? Como cativar a atenção do espectador para uma obra tão desconstruída e abstrata? Devo dizer que no geral, tal meta não foi alcançada, o que em momento algum desmerece a obra do curitibano. 


Em seus dois primeiros episódios, a série meio que tenta se ambientar, e pelo que eu percebi, andar a passos largos, um longo caminho percorrido pelo livro, em um curto espaço de tempo. A ambientação não chega a ser bem feita, o espectador consegue se perder na cronologia da história em alguns momentos, tudo fica bastante desconstruído, e a tarefa de conciliar poesia com roteiro acaba não se cumprindo. Como por exemplo no caso "Selma", nada é óbvio e se a atenção não for redobrada nos vinte minutos de história, é muito fácil se perder nos devaneios da personagem, e ficar sem saber quem é quem.

O segundo episódio então, para mim foi bem desgastante e decepcionante. Na tentativa de contextualizar a primeira relação sexual da menina ou de seu amigo Olavo, não ficou muito claro, a série dá um belo de um nó na narrativa, mete os pés pelas mãos e acaba sendo tudo muito rápido e forçado. Eu fiquei sem entender, por exemplo, quais eram as razões da menina por estar fazendo aquilo (ou apenas não existiram), e bem perdido na narrativa sobre quem ela conheceu primeiro, se foi Tony ou Olavo, e em momento algum o roteiro deixa óbvio que Tony é gay, e que a relação dele com Ana é de apenas uma amizade.


Enfim, reclamações à parte é no terceiro episódio mesmo que a história começa a andar. Depois de todas as introduções das nuances comportamentais da personagem principal, o antagonista é finalmente apresentado e meio que faz a roda girar. Alex é apresentado como inteligente e calculista, e como o único aluno em toda a escola capaz de apreciar e entender tudo o que Ana é, além de impulsioná-la a se questionar muito mais. É como se a dupla tivesse o dom, o dispusesse do conhecimento de analisar todo o comportamento social de sua geração, em terceira pessoa, e pela prévia que conseguimos captar do tal "jogo" que eles vão fazer, é realmente se aproveitar dessa capacidade intelectual que eles tem, para tirar vantagem de alguém.

Tirando a narrativa no geral, os personagens em si são muito bem construídos, todas as suas falas, a poética que os envolve reflete muito de suas personalidades, e as atuações estão impecáveis. Bianca Comparato então nem se fala, está um monstro na atuação, é como se além dela possuir todo o perfil da personagem, ela tivesse incorporado a mesma em todos os seus traços e trejeitos, porque o que geralmente vemos é a atriz nos entregando uma atuação mais bruta mais incisiva, mas Ana não, ela é bem sutil, e a atriz deixa muito dessas coisas transparecerem em suas cenas na banheira, ou quando escreve suas cartas para Selma.


A fotografia de Inti Briones e a trilha sonora da série são outras duas dádivas á parte. A quebra com a câmera tradicional de se fazer teledramaturgia na televisão brasileira, os desfocamentos de câmera, os ângulos, tudo ficou muito apreciável em questão de estética. A trilha então melhor ainda, vai de Pavement à Cat Power, de Chris Bell à Velvet Underground, passando pelo melhor do post-rock e do psicodélico, se enquadrando muito bem dentro da proposta da direção, que é realmente fazer o espectador se perder nos personagens e nas suas propostas, e se desligar um pouco da tradicional forma de narrativa, "In my opinion!". 

No mais é isso meus caros, boa estréia, acho que é um ótimo acréscimo à recente onda de produção de séries nacionais, e parece que a obras realmente emplacou depois do terceiro episódio. Já consigo me ver preso na trama, e querendo saber cada vez mais em que vai culminar esse envolvimento perigoso de Ana e Alex. O gosto de quero mais ficou, e semana que vem estaremos aqui de volta para comentar o que achamos da segunda semana da produção. E vocês o que acharam dessa estréia?

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2 comentários

  1. alguém sabe se tem um horário alternativo em que é exibido na mtv? Passa muito tarde, não consigo assistir =(

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  2. Não achei tão dificil assim de entender a trama nos dois primeiros episódios, acho que no primeiro episodio por se tratar de uma narrativa não linear pode confundir quem não assiste com tanta atenção.
    Mas de resto concordo com você, ficou meio confuso o 2º episódio quanto ao que fez Ana dar o "presente" pra Olavo.
    MAs a partir do 3º com a entrada do Alex deu um gás a mais pra série.
    O que eu acho interessante é que nos 20 minutos de série eles conseguem trabalhar os personagens, coisas que algumas séries de 40 minutos não conseguem.


    Vale ressaltar a participação mais que especial de Wagner Moura, é bom ver que o ator não largou a TV por completo, mas que está escolhendo direitinho onde atuar pela qualidade.


    E por fim se todas as séries nacionais tivessem a ousadia que a menina sem qualidades tem, acho que teríamos séries com maior qualidade. A GNT já mostrou que pode fazer série boa na tv a cabo. A MTV agora mostrando que pode fazer série boa na TV aberta.


    P.S.* Parabéns à Bianca Comparato, mergulhou de vez no personagem e a cena de como se faz um boquete é simplesmente pra aplaudir em pé a atriz pela coragem de fazer tal cena na tv aberta brasileira!

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