Person Of Interest 3x23: Deus Ex-Machina (Season Finale)

17.5.14


Se, há uma semana atrás, eu decidisse resumir minhas expectativas para Deus Ex-Machina em algumas palavras, diria que esperava ação, alguns momentos dramáticos e, talvez, algumas mortes. Certamente afirmaria que os heróis venceriam novamente, e o episódio funcionaria como o encerramento de uma história, abrindo caminho para novas tramas, outros inimigos. Seria impossível que eu estivesse mais errado.

É irônico que uma série que faz uso constante de plot twists, e normalmente de forma pedestre, consiga tornar esse elemento o mais eficiente de seu season finale. A construção das reviravoltas – sendo elas o real objetivo do plano da Máquina e a origem do Vigilance – vista em vários momentos desse terceiro ano da série foi competente, conseguindo esconder até os últimos momentos revelações importantes que mudam de vez estrutura, deixando para trás o procedural e abraçando uma narrativa com mais continuidade.

Esse sucesso em enganar o espectador se deve muito a Root, e ao que as ações dela representavam. Durante toda a temporada ela agiu isolada, e tudo que fazia parecia um grande plano da Máquina visando derrotar o Samaritano. Encontrar aqueles três hackers, roubar os servidores, impedir que a Decima conseguisse os processadores que precisava: todas ações que criavam um falso senso de segurança. Poderia ser difícil, mas o inimigo seria vencido.

O que é mostrado em Deus Ex-Machina é que essas ações são coerentes tanto com a possibilidade otimista, a dos heróis vitoriosos, quanto aquela que a série escolheu. A ideia de que Root era na verdade o plano B é útil tanto para surpreender quando finalmente entendemos o que ela pretendia naquela server farm da Decima, como também para explorar a complexa capacidade de planejamento da criação de Finch. A Máquina tentou impedir a existência do Samaritano, mas foi capaz de prever que seu criador não poderia simplesmente executar alguém, criando então um plano para que todos pudessem sobreviver, lhes dando chance de lutar novamente um outro dia.

Indo além das habilidades preditivas da Máquina, o quanto ela capaz de manipular as emoções para conseguir realizar seus objetivos é uma ideia cada vez mais aparente. Ela forçou Reese a trabalhar novamente após a morte de Carter, o que eventualmente o levou a aceitar que ele deveria continuar a proteger os números irrelevantes. Mais tarde veríamos Root receber sua lição ao ser mandada proteger alguém que ela havia prejudicado no passado em detrimento da missão. Assim, não seria estranho pensar que a Máquina talvez nunca tenha tido a intenção de derrotar o Samaritano através do assassinato do deputado McCourt, no vigésimo episódio, mas apenas tenha tentado fazer Finch mudar, enxergando no futuro um momento onde ele uma vez mais terá que escolher entre matar ou não alguém pelo bem maior.

É comum, quando se trata de heróis, dizer que eles são tão bons quanto seus inimigos. Greer foi um excelente adversário durante toda essa temporada, levando Finch e cia. ao limite, até que finalmente os derrotou. Num movimento a la Palpatine na saga Star Wars, ele ao mesmo tempo criou a necessidade e o produto apenas para conseguir ganhar poder no processo. Ele tem suas falhas como personagem, mas jamais como um motor para trama e como uma ameaça realmente temível a vida dos protagonistas.

Greer ainda não é um vilão perfeito entretanto. Interpretado por John Nolan como alguém que parece acreditar que quase tudo que diz demanda uma inflexão equivalente ao grande significado que acredita existir em cada uma daquelas palavras, ele muitas vezes soa entediante, beirando o pedantismo. Assim como mencionado na crítica passada, a sua postura como um adorador do Samaritano como um deus – o que o deixa extremamente parecido com Root, sendo apenas alguém com mais meios de alcançar a sua visão de um mundo governado por inteligências artificiais – ainda carece de mais explicações. A ideia da admiração dele por essa inteligência não-humana não é surpreendente – há alguns episódios atrás, Greer lamentou o fato de máquinas ainda são incapazes de simular o sentido do olfato – mas intensidade desse sentimento é.

A revelação final sobre a origem do Vigilance acabou dando uma dimensão emocional inesperada a Collier. Ele sempre teve uma motivação nobre, mas seus métodos eram, no mínimo, questionáveis. A ideia de que o fim justifica os meios é central para ele tanto quanto ser livre, combatendo os abusos do governo. É esse desejo de liberdade que o torna uma figura trágica quando descobrimos que ele não passava de uma parte do plano de Greer. Na sua tentativa de acabar com os abusos do governo, ele os tornou piores, e morreu sem ter uma chance de se redimir por isso.

As cenas do julgamento comandado por ele oferecem várias perspectivas sobre a invasão de privacidade. O conselheiro do presidente logo morre por que não tem nada a dizer, o senador assume uma postura politica, se importando com o problema criado pelo Nothern Lights apenas por que afeta sua imagem. 

Os depoimentos da Controle e Finch são mais complexos. Para ela, existe uma origem bem-intencionada nos seus atos, se justificando através da necessidade de proteger o país. Como sabemos, ela não enxerga os absurdos que comete em nome desse objetivo. Para ele, ser interrogado por Collier é finalmente ser confrontado com o ponto de vista de alguém que não o conhece, tendo o choque de ver suas ações resumidas na frase “Nada de errado com uma ditadura, desde que você seja o ditador”. Pelos olhos do espectador, isso está longe de ser verdade, mas para alguém que não conhece intimamente as intenções de Finch, é difícil chegar a outra conclusão senão aquela de Collier. 

As máquinas, Greer, o julgamento: todos elementos que finalizaram a transformação desse drama procedimental em uma distopia sombria, encerrando essa temporada de forma melancólica, onde os vilões venceram e o mundo sequer notou.

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1 comentários

  1. Cada episódio que passa, eu amo mais essa série. Esse season finale foi impactante, bonito e até poético. Collier tomou uns tiros mas será que morreu mesmo? Sei que a série não é muito de trazer os mortos de volta, mas a Stanton todos achavam que estava morta e não era o caso, ficou muito ferida e hospitalizada por muito tempo. O Ingran eu acho que está morto mesmo, foi obra da Control. Os vilões venceram e POI cresceu muito com isso. Ver Finch, Reese, Shaw e Root se levantarem e ir a luta pela Machine vai ser espetacular, não tenham dúvidas.

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